Até 1958 sofríamos, segundo Nelson Rodrigues, do "complexo de vira-latas". Dali em diante, jogamos a modéstia no lixo e colocamos na cabeça que tínhamos o melhor futebol do mundo. Ledo engano usando outro termo comum no universo rodrigueano.
O melhor é sempre aquele que ganha os jogos e conquista o título. Sendo assim, basta verificar que mesmo nos considerando os melhores, ganhamos cinco copas enquanto a Itália ganhou quatro, a Alemanha três, a Argentina duas e assim por diante.
Se fôssemos mesmo destacados os melhores, teríamos vencido pelo menos o dobro de vezes da Itália. Da mesma forma que argentinos e uruguaios não deveriam ter maior número de títulos continentais do que o Brasil.
Mesmo com os supercraques do passado gerações de Leônidas, Zizinho e Ademir; depois Didi, Garrincha e Pelé, mais adiante Rivelino, Jairzinho e Reinaldo ou Falcão, Sócrates e Zico a nossa seleção passou de 1949 a 1989 sem vencer uma Copa América. E nesses quarenta anos, a seleção conquistou o tricampeonato mundial e colocou a coroa de melhor na própria cabeça.
Estou querendo dizer com isso que a bola tem sortilégios que precisam ser entendidos e nem sempre os deuses do futebol estão ao nosso favor.
Se achando o melhor time nem sempre a seleção brasileira realiza a preparação de forma adequada. Ora por causa dos técnicos que, via de regra, são tremendos enganadores que se saem melhor nas entrevistas do que na ação em campo; ora por causa da vaidade dos jogadores que se preocupam mais com o corte de cabelo e com o próximo contrato milionário do que com o torneio que será disputado.
A seleção só conseguiu conquistar o título quando se preparou com esmero, levou tudo a sério e, principalmente, os verdadeiramente craques desequilibraram no momento decisivo. Não foram os técnicos que ganharam, mas sim os jogadores acima da média que escreveram as suas histórias. Os técnicos campeões apenas não atrapalharam.
Durante os 40 anos de jejum de títulos continentais ou nas copas em que tivemos bons times e saímos de campo derrotados, os craques falharam. Com os outros países as coisas funcionam do mesmo jeito, pois só com trabalho sério, comprometimento e o brilho dos principais astros é que se alcança a glória.
Nesta Copa América as coisas ficaram bem claras, mais uma vez, com o fracasso dos ídolos e o triunfo das equipes tecnicamente inferiores, porém operárias que jogaram no erro dos favoritos.
Atualmente o melhor futebol do mundo é, disparado, o espanhol. Tanto em relação ao seu time campeão, o Barcelona, quanto a sua seleção.
Para tentar igualar-se aos atuais campeões a seleção brasileira necessita percorrer longo caminho que passa, necessariamente, pela completa renovação de jogadores e, sobretudo, de conceitos.
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