Estamos curtindo uma semana histórica na comemoração de duas datas muito caras para quem passou a vida na crônica esportiva e no futebol, como eu: ontem, os 80 anos da primeira transmissão radiofônica de uma partida no Paraná e, no próximo sábado, os 100 anos de jogos na velha Baixada da Água Verde.
Quando Jacinto Cunha e Jofre Cabral iniciaram o relato do clássico Atletiba, no estádio Joaquim Américo pelas ondas da Rádio Clube Paranaense em 2 de setembro de 1934, não imaginaram que oito décadas depois seriam lembrados também por outros motivos: Jacinto, pai de Mario Celso Cunha coordenador estadual da Copa do Mundo que muito contribuiu para a conclusão da moderníssima Arena da Baixada nos padrões exigidos pela Fifa e Jofre por ter reerguido o Atlético como presidente em 1968. Seus nomes se eternizaram na história do rádio e do futebol paranaense.
No final deste mês, o jornalista Josias Lacour lançará o livro 80 anos de Gooolll a história do rádio esportivo do Paraná, resgatando muitas passagens importantes e curiosas do veículo mais antigo e apaixonante da comunicação. O centenário da Baixada tem muito a ver com a mística criada em torno do nosso primeiro estádio ainda em funcionamento. Ali estão depositados os feitos, as conquistas, os símbolos, os sonhos e as realizações dos homens que ajudaram a sua construção, dos heróis que escreveram com suor e sangue a legenda da camisa rubro-negra que só se veste por amor, dos ídolos que arrebataram as multidões com gols eternos e do torcedor comum que se entregou a devoção atleticana de corpo e alma na arquibancada. É tão forte a magia do santuário da Baixada que ao transpor o portão de entrada o atleticano experimenta uma estranha sensação de excitação e ânsia crescentes.
A criança quando brinca se transporta para um mundo imaginário e o adulto quando ama um time se doa nos preparativos para o jogo, na indumentária apropriada para o acontecimento, na vibração durante os 90 minutos e na plena reciclagem do organismo livrando-se do stress físico e emocional do cotidiano. Essa experiência tem o poder de preservar sadia infantilidade em cada um de nós, pois é paixão pura, paixão na veia. A catarse do futebol faz bem ao espírito e ao corpo.
Quando os peregrinos atleticanos iniciarem logo mais à noite o seu retorno à Arena da Baixada, não significa apenas assistir a mais um jogo, mas ir ao encontro do amor, da alegria, da vibração e do sentimento de fazer parte de uma verdadeira religião. O culto começa na arquibancada e se estende à relva sagrada onde os jogadores chutam a bola que desperta o espírito lúdico que leva o individuo a uma perturbadora insanidade racional. A grande família do Furacão vibra e sofre unida, em todos os momentos do clube, dentro e fora do campo.
Dê sua opinião
O que você achou da coluna de hoje? Deixe seu comentário e participe do debate.
Deixe sua opinião