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Só queria entender por que a seleção brasileira não mexe mais com o povo como antigamente. Não sei se é o excesso de jogos pela televisão, a mercantilização que tornou o torcedor mais cético no respeito aos dirigentes e na idolatria aos craques; as notícias das fortunas que os jogadores recebem, algumas vezes sem mostrar qualidade técnica à altura. Parece que a soma disso com os tormentos que deixaram o país mal-humorado, assustadoramente violento, muita gente com os nervos à flor da pele, desilusão com os políticos e governantes, enfim, a realidade é que a seleção não exerce o mesmo encantamento do passado.

O futebol provocava magia no imaginário coletivo das pessoas, cuja maioria absoluta ouvia pelo rádio e lia nos jornais, pois poucos tinham a oportunidade de ver os grandes craques em ação. Talvez nos melhores dias a imaginação criasse jogadores infalíveis e uma seleção invencível, sei lá. Mas no campo a seleção funcionava nos anos dourados do tricampeonato mundial.

A exceção foi na Copa de 1966 quando, por motivos políticos da cartolagem, a então CBD convocou 44 jogadores. Recordo que no dia da primeira convocação a delegação do Palmeiras estava em Curitiba, hospedada no Clímax Hotel – que não existe mais – na Rua Doutor Muricy, para um jogo amistoso com o Coritiba. Fui à concentração para entrevistar os jogadores e levei um rádio que acabou servindo para que todos ouvissem a chamada do técnico Vicente Feola. Era o tempo da Academia e nada menos do que oito jogadores do Palmeiras que ali estavam foram convocados. Mas só Djalma Santos embarcou para a Inglaterra. Havia uma profusão de craques, tanto que durante o Mundial – o último sem transmissão ao vivo pela televisão – os cortados formaram a "Seleção dos Esquecidos" que excursionou por algumas capitais, jogando com o Coritiba, no Alto da Glória.

O anúncio de Felipão não deve causar nenhum frisson, pois o time está escalado e poucas surpresas devem acontecer.

O que há mesmo é um descompasso entre o futebol apresentado pela seleção com o aquilo que vemos nos times que se arrastam nos torneios nacionais e na Libertadores. Sem craques e com poucas revelações, quem chega ao Brasil, de repente, e vê alguns jogos acha que a seleção não terá nenhuma chance na Copa. Porém, como a quase totalidade dos atletas atua na Europa, não combina entre o jogo da seleção e o praticado pelos nossos times, parecendo não pertencerem ao futebol do mesmo país.

Os clubes brasileiros ficaram defasados por má gestão, os treinadores não se reciclaram e a garotada está indo embora muito cedo atrás dos euros, ienes e outras moedas.

Resta a esperança de a seleção conseguir jogar bem como fez na Copa das Confederações, apesar de que Copa do Mundo é uma competição muito mais difícil e na qual os favoritos vêm com tudo.

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