Tornou-se uma platitude dizer que os políticos corruptos não têm jeito, assim como os maus árbitros erram porque não têm jeito ou que os times que facilitam as coisas agem dessa forma porque também não têm jeito de evitar. Está passando do limite a forma contemplativa com que observamos tantas barbaridades sem que providências enérgicas sejam tomadas.
Na vida pública é caso de polícia, já que soa absurda a ideia de que político para ser honesto necessita de uma reforma política e partidária. Porém, o cidadão comum é ético e honesto por formação.
Mas, enquanto alguns times lutam por vagas na Libertadores e outros para não serem rebaixados, o Flamengo, que já teve uma molezinha domingo na partida com o Corinthians, pode sagrar-se campeão no jogo com o Grêmio absolutamente desmotivado. Aliás, a posição dos jogadores do Grêmio é surreal, pois eles perderam o direito de errar da mesma forma que perderam o direito de acertar.
Por tudo o que se disse e se propôs em torno do comportamento do time do Grêmio para não ajudar o Internacional, qual será a reação popular ao primeiro erro de um jogador gremista na partida de hoje? Ou qual será a reação da torcida do Grêmio ao primeiro acerto ou, sobretudo, à marcação de um gol contra o Flamengo?
Esta será, lamentavelmente, a incômoda situação da equipe gaúcha no Maracanã.
Como o futebol é rico em maus exemplos, como a amolecida da Alemanha Ocidental para a Alemanha Oriental, na Copa de 1974, para fugir do cruzamento com Holanda ou Brasil antes da final; a entregada do Peru para a Argentina, na Copa de 1978, ou a suspeição de favorecimento do Vasco ao Santos, na última rodada do Campeonato Brasileiro de 2004, em prejuízo do Atlético, tudo pode acontecer.
E sempre em prejuízo da credibilidade do futebol, como no lance que decidiu a classificação da França para a Copa.
Tão grave quanto os fatos é a platitude dos envolvidos com discursos e frases que soam inteligentes, aparentemente justificam os erros cometidos e não trazem nada de informação ou novidade para mudar o cenário.
A própria Fifa não contribui, de forma vigorosa, para diminuir as dúvidas e devolver a confiança do público ao futebol. Deixou para mais tarde a utilização de dois árbitros auxiliares atrás das metas do mesmo jeito que reluta em aceitar a moderna tecnologia para dirimir as dúvidas nos lances polêmicos.
Com tantas imoralidades, suspeitas, arranjos e conluios é surpreendente que ainda não tenha havido reação dos torcedores contra este estado de coisas.
Mas, a continuar assim, pouco a pouco os apaixonados torcedores vão diminuindo o entusiasmo, penetrando nos subterrâneos do esporte pois o jogo de interesses não se resume apenas ao futebol, mas em todas as modalidades deixando de iludir-se.
Quando isso acontecer, será a morte da galinha dos ovos de ouro.
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