Houve época em que todos jogavam futebol, com onze ou sete jogadores, dependendo do tamanho do campo, consagrando o que se convencionou chamar de pelada.

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E era pelada pelos mais diversos motivos, a começar pelo campo, invariavelmente irregular, a bola velha, as redes furadas, as chuteiras gastas e, pelo menos um time jogando sem camisa.

Dentre as peladas de Curitiba entre 1950 e 1990, lembro da animada pelada do Kaminski, na Água Verde; na casa do Luis Afonso Camargo, no Jardim Social e na chácara do Buergüel, em Campo Comprido.

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No Kaminski nunca joguei, mas me diverti assistindo as peripécias do velho Thiele, Zé Maria, Julio Gomel, Pasquale, Gorgó, Aramis Bertoldi, Dinis Bonilauri, Nego Dadá e tantos outros.

Na antiga chácara do Luis Afonso foi um festival de dribles, embaixadas, gols e muitas gargalhadas e, a mais engraçada de todas, foi a pelada do Buergüel, graças ao professor Arthur de Castro, o rei das tiradas rápidas, seguido de perto pelo irmão Getulinho, os impagáveis Jorge Zadih, Caibem, Luiz Geraldo Mazza, Pizza, Joãozinho boca-negra e Tonico Xavier, e os falecidos irmãos Turra – Carlos e Gustavo -, Ricardinho Felthus, Munir Calluf e Wilson Flores.

A maior atração verificava-se na hora de tirar o par ou ímpar. Enquanto os capitães escolhiam entre atacar para cima ou para baixo, notava-se a frequência de craques profissionais. Foi lá, naquele racha das tardes de sábado, que tive o privilégio de jogar no mesmo time de Miltinho, Adão, Ivo Cavalo-de-Pau, Almir Manzocki, Deleu, Ademar Pantera, Rinaldo, Dirceu Guimarães, Oberdan e outras feras do Coritiba; ou de Isabelino, Odilon, Pérez, Sanford, Altemir, Charrão e Zezinho do Atlético.

A maior glória foi ter jogado ao lado de ninguém menos do que Jackson do Nascimento, o maior atacante do futebol paranaense de todos os tempos.

Craque do Atlético, da seleção paranaense e do Corinthians, Jackson deixou uma marca de estilo, refinamento e toque de classe que poucos jogadores conseguiram dele se aproximar.

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Foi em uma partida amistosa no estádio Durival Britto e Silva, entre o time da crônica esportiva e a diretoria do Ferroviário, em 1966. Lembro que sofri uma falta e fiz questão de bater, chutando a bola na antiga concha acústica de Vila Capanema. Dali pra frente o capitão do time, Clemente Comandulli, determinou: "Guri, de agora em diante só o Jackson cobra faltas !". Ele bateu três faltas, acertando o travessão em uma e marcando dois gols magistrais.

Entre essas glórias que consolam, não me imaginava um dia, um dia que fosse, vivendo semelhante privilégio.

Mas o engraçado mesmo eram as brigas para a escalação dos times e a percepção dos líderes na escolha dos jogadores, tudo feito sem dissimulação: os melhores em primeiro lugar, os médios a seguir e a os pernas-de-pau no final.