Depois de cumprir a pena imposta pelo STJD, o Atlético reabrirá a Arena da Baixada com a presença do público. Observa-se grande expectativa em torno da volta da vibrante massa atleticana e, especialmente, da sua maior torcida organizada, que protagonizou os lamentáveis acontecimentos de Joinville.
O fato é que a violência do futebol brasileiro não pode ser separada da violência que assola a sociedade como um todo. E, nas últimas duas décadas, tornamo-nos uma coletividade que banalizou a violência.
O respeito à vida como valor social deteriorou-se amplamente, de modo que os freios morais para a contenção do impulso da agressividade estão muito fragilizados.
Como consequência, a utilização da força física para imposição de interesses e resolução de conflitos dissemina-se nos mais diversos ambientes sociais, com destaque ao trânsito e aos eventos esportivos.
A despeito dessa dimensão social do fenômeno, deve-se considerar altamente preocupante o comportamento das torcidas organizadas, no exercício de potencializar a violência nas ruas e nos estádios de futebol. Elas constituem focos geradores de práticas violentas, influenciando o próprio contexto social em que se inserem. As torcidas uniformizadas, de modo geral, estão estruturadas pelo "ethos" da virilidade, da masculinidade e da afirmação da força física contra os torcedores adversários, às vezes, inclusive, integrantes de outra facção do mesmo clube.
Mas acabar com as torcidas organizadas seria a confissão de incompetência das autoridades policiais e dos dirigentes esportivos. É um equívoco tentar eliminar o problema em vez de aplicar a lei, planejar a ordem pública, reprimir e prevenir, respeitando-se a legislação, a ética e os efeitos pedagógicos das ações de política pública. Isso também se aplica à prática de racismo nas arenas esportivas. Aranha, goleiro do Santos, foi a nova vítima da intolerância, desta feita por alguns torcedores do Grêmio, em Porto Alegre. Até que ponto podemos ser liberais com quem pretende demolir as liberdades ou assegurar os direitos dos que não o reconhecem?
Poucas coisas são mais repugnantes e estúpidas do que o preconceito racial e têm sido frequentes as manifestações desse tipo no mundo inteiro.
As organizadas integram o folclore e a alegria dos estádios marcando a nossa cultura popular, não se justificando a vontade daqueles que pretendem matar o gado para acabar com o carrapato.
O que o Brasil necessita de fato é de um plano estratégico nacional de segurança pública para o futebol, permanente e que se renove sempre, com a prisão e processo criminal dos delinquentes, de imediato, programando-se, a médio prazo, a fiscalização preventiva nas redes sociais desses segmentos e medidas de reeducação em parceria com as lideranças pacíficas das uniformizadas.
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