A escolha do ex-jogador e empresário Gilmar Rinaldi para coordenar a seleção provocou um misto de desconfiança e desencanto no torcedor brasileiro. Simplesmente porque após a derrota brutal diante da Alemanha a pátria ficou sem chuteiras e todos esperavam uma verdadeira revolução na cansada estrutura da CBF, das federações e, principalmente, dos clubes.

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Mas o futebol brasileiro carece de líderes, de homens de visão estratégica que pudessem mandar para escanteio falsos mecenas, prestidigitadores, aproveitadores ou coronéis. Malabaristas, só deveria havê-los dentro de campo. Enquanto isso não acontece, vamos aguardar as verdadeiras e imprescindíveis transformações mais a frente, depois de novos vexames monumentais que, pelo andar da carruagem, serão inevitáveis com esse tipo de gente no comando.

As mudanças que se prenunciam na seleção e na estrutura dos campeonatos – tema debatido a exaustão pelos integrantes do movimento Bom Senso FC, que chamou a atenção do governo – provavelmente serão pífias e bem do jeito que caracteriza a sórdida política do país. Ou seja: a cartolagem que domina o futebol nada mais é do que a deplorável extensão dos maus modos e da incompetência da política nacional.

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Com visão estreita das coisas e dos fatos, entregando a missão hercúlea de reerguer o nosso combalido futebol para profissionais modestos como Gilmar, Gallo e, amanhã, a um treinador que pouco poderá realizar diante dos múltiplos interesses em jogo, a CBF desenha uma reforma "para inglês ver". Como jornalismo esportivo também é cultura, não custa registrar que esse termo surgiu há mais de 150 anos, quando se iniciou o movimento para a compra de alforrias dos escravos, denominado Ações da Liberdade. Valiam-se os advogados que lutavam pelo fim da escravidão do Tratado de Aberdeen, com a Inglaterra, pelo qual todo africano que entrasse no Brasil a partir de sua vigência seria considerado livre. Foi essa lei que gerou a conhecida expressão "para inglês ver", pois jamais teve eficácia alguma. Como lamentavelmente ocorre até os dias de hoje, a lei existia, mas havia inúmeros obstáculos a romper na execução da sentença.

Voltemos ao futebol, cuja prática se tornou um sucesso em nosso país graças à arte e à genialidade de milhares de jogadores negros, que comemora o êxito da Copa recém-encerrada. Para bem ilustrar o espírito brasileiro, recordemos dois conceitos emitidos pelo francês Jérôme Valcke: uma no cravo – "Não apareça na Copa pensando que o Brasil é a Alemanha"; e, pouco depois, outra na ferradura – "O Brasil é um país incrível". Mesmo por caminhos tortuosos, o secretário-geral da Fifa foi um dos melhores intérpretes do modus faciendi nacional.

Mas o Brasil é maior que seu futebol – e tem desafios mais importantes, e maiores, a vencer para o bem-estar da população. Oremos.

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