Seria redundância nos dias de hoje afirmar que Messi, Suárez e Neymar formam o melhor ataque do planeta. Se juntos são os melhores de todos os tempos, aí é outra história. Mas não é isso o que interessa. O que surpreende é a afinidade entre eles fora de campo. É raro que um argentino, um uruguaio e um brasileiro se deem tão bem.
Hoje os valores são outros. Os salários beiram o absurdo. Impera o narcisismo. O ego fica acima da amizade, da solidariedade, do bem comum. Mesmo assim, esses três craques do Barcelona conseguem jogar com alegria e objetividade incríveis, porque além do talento mantêm uma convivência familiar fora de campo e fora do comum. E sem concentração.
No grande time do Santos, de Dorval, Coutinho Pelé e Pepe, a convivência entre eles era estreita, muito em função das viagens. As excursões que duravam um mês, um mês e meio, por aí, eram na época a melhor forma de o clube ganhar dinheiro. E a convivência unia o grupo. Os jogadores eram grandes amigos pessoais, não de família, como ocorre no Barcelona.
Descontando o abismo que separa a administração dos grandes clubes europeus – o Barcelona com suas estrelas é apenas um exemplo – com os nossos, acho um atraso de vida esse negócio de cartilha e concentração. Tão fora da realidade quanto bater com a régua na mão do aluno.
Durante a semana, os jogadores do Coritiba não se concentraram devido ao atraso de pagamento do clube. Quase perderam para o Rio Branco. O que faltou foi a concentração no sentido de foco na partida. Não a concentração física em si, o “presídio”, o hotel, seja lá o que for.
A autoimagem de um atleta dá forma a como ele funciona durante o jogo. Isso faltou ao Coritiba. O treinamento mental é a chave para reduzir o estresse, controlar as emoções, equilibrar. As quatro paredes de um hotel não falam nem escutam, elas sufocam.
Concentração não é prisão. Concentração é foco no objetivo. É a alegria. É a vivência na atividade. Quando fazemos com alegria o que tem de ser realizado, facilitamos a disposição para nos concentrarmos. O Coritiba derrapou. Não vive seu melhor momento financeiro e psicológico. Paraná e Atlético, que fazem o clássico na “Vila”, passam por melhor astral. Com ou sem concentração.
O comportamento de Messi, Suárez e Neymar é exemplo para a garotada e também para os clubes. Com atitude profissional e livre das amarras da concentração, eles cresceram em todos os quesitos. Neymar, mais encorpado, simula menos. Messi perdeu a timidez e até sorri, e com o instinto canino que traz, Suárez morde agora o escudo do Barça a cada gol que marca.
Enfim, se pagarem direitinho os tributos sonegados aqui na Terra, os três podem até se concentrar na busca pela canonização no mundo da bola.
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