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O rei da Arábia Saudita queria divertir seu povo com um novo entretenimento, dentro de um país árido, monótono e machista. Mandou construir um estádio que lembra uma enorme tenda, diferente das arenas padrão Fifa. Para sua acomodação, uma suíte de ouro, cama e tudo mais, na parte nobre das sociais. Coisa nababesca. Belíssimo. Ali foi realizada a "Copa do Rei", em 1993, com seleções de diferentes partes do mundo, que jogaram para um público exclusivamente masculino – lá mulher não pode entrar em campos de futebol.

Esse torneio criado pelo rei Abdullah foi o embrião da atual "Copa das Confederações". Abriu os olhos da Fifa para outra fonte de inesgotável faturamento. Espécie de Pré-Sal do futebol. Cada continente teria uma seleção campeã participando do segundo maior evento futebolístico do planeta, atrás apenas da Copa do Mundo. Jorrando mais dinheiro para os cofres da entidade, a nova jazida molharia também os bolsos de presidentes das confederações que, comprometidos, perpetuariam os cartolas de Zurique. Um grande negócio para eles.

Os três primeiro torneios foram em Riad, onde estive cobrindo pela Gazeta do Povo o primeiro deles com a participação do Brasil, em 1997. Todos os jogadores brasileiros, naquela ocasião, rasparam a cabeça. Imaginei que a ideia tivesse cunho de protesto ou algo assim. Talvez para chamar a atenção contra o regime severo de um país muito rico, onde as mulheres não têm voz ativa, e os criminosos são decapitados em praça pública. E, diga-se, sem nenhuma cobrança das grandes potências ditas democráticas e preocupadas com os direitos humanos, porém caladas pelos generosos preços dos barris de petróleo.

Romário e seus súditos não tinham alcance para isso. Aliás, com raras exceções – como o craque chileno Caszeli, por exemplo, que contestou o ditador Pinochet –, os atletas são muito alienados. Soube então que se tratava apenas de uma brincadeirinha. Negócio deles era a bola, onde o Brasil deu um show que encantou o rei, os súditos e a imprensa. Foi campeão aplicando uma surra de 6 a 0 na Austrália na final.

Estivemos nas outras edições, até chegarmos a essa do Brasil. Houve um avanço na organização e na tecnologia. Hoje o fenômeno midiático faz uma lavagem cerebral e o produto, que não deixa de ser bom, faz-se espetacular. Mas, convenhamos, é válido e até mais democrático do que o Mundial, do qual o Taiti, por exemplo, jamais participaria.

Ganhando este torneio, o clima se torna favorável para 2014, o que seria interessante. Acho apenas que falta ao nosso futebol a perseverança que Bernardinho e Zé Roberto conseguem passar para as quadras de vôlei: ganhar sempre! Vencer é saboroso, mesmo com a mais pura lucidez de interesses outros que rolam na cúpula das confederações.

Que mal lhe pergunte

Depois das revelações de que os americanos grampeiam a comunicação mundial, tudo parece crível. Até o vazamento de uma negociação ultrassecreta entre Alex e o Cosmos. Será?

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