Existem dois tipos de Olimpíadas: aquela onde o comitê organizador usa a infraestrutura da sede escolhida para faturamentos estratosféricos – caso de Londres e de Sydney –, e a outra em que a cidade remodela e projeta através dos Jogos uma nova imagem para o mundo – como foi Barcelona, Atenas e Pequim

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O Rio de Janeiro se encaixa no segundo grupo. Na concorrência para sediar o evento, venceu antes de tudo – e pouca gente sabe disso – uma disputa interna com São Paulo, que também pleiteava as Olimpíadas. Na pré-escolha, o COB decidiu pelo Rio.

Quando chegou na votação final, em 2007, os adversários eram poderosos: Chicago, Tóquio e Madri. A escolha do Rio, na época, foi comemorada e não houve contestação alguma. Pelo contrário, o gostinho de sediar os Jogos Olímpicos foi quase unanimidade no país.

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Claro que de lá para cá as turbulências políticas e econômicas foram imensas, e muita coisa respingou por conta da Copa de 2014 e também das Olimpíadas. Nada, porém, que se atribua a esses dois mega-eventos a razão do caos pelo qual passamos.

Estamos há menos de um mês do início das competições no Rio. A constatação e o medo às vésperas dos Jogos, hoje irreversível, são até compreensíveis. Filme aliás, que vivenciei em outras sedes antes de a chama olímpica brilhar.

Comparo os dias que antecedem a uma festa de casamento. A família anfitriã se preocupa com o que deixou de fazer, com aquilo que pode dar errado. Tudo vira tensão. Será que não vai faltar nada? O bolo vai ser entregue na hora marcada? Para o convidado, porém, é só alegria e descontração.

Acompanho os preparos do Rio desde o dia em que a cidade foi eleita como a sede para os Jogos, isso lá em 2009. Houve erros no planejamento? Houve. E graves. Como a despoluição da baía e da lagoa, por exemplo. Dever não cumprido. Falha criminosa enquanto locais de competições aquáticas. Um absurdo.

Penso que não será a melhor olimpíada da história. Longe disso. No entanto, se o transporte – e o Rio é uma cidade geograficamente de trânsito complicado -, e a segurança não complicarem, afirmo que o país não deu um tiro no pé ao apoiar a vinda dos Jogos Olímpicos para cá. Há muitos pontos positivos.

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Se não explodir nenhuma bomba no Parque Olímpico; se o trânsito não complicar a vida das pessoas; se as instalações dos jogos forem reaproveitadas; se nenhum maluco atropelar maratonista; as Olimpíadas do Rio não perdem para Atlanta, Sydney e Atenas. Mesmo sem Coca-Cola, Canguru ou Acrópoles.

O Rio pode deixar o mesmo legado de Barcelona, a transformação de alguns setores da cidade. Londres e Pequim gastaram quatro vezes mais do que a capital fluminense. Sem comparações. É outra realidade. Não demonizemos a Rio-2016, pois.