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Johannesburgo – Mesmo calejado pela 10.ª Copa do Mundo, me autoinduzo como se fosse a primeira. Senão meu senso crítico estaria focado para um grande evento comercial, onde poucos ganham muito, em cima de 11 milionários fantoches de cada lado. Assim me faz bem, porque quando a Copa representar para mim apenas um "torneiozinho", co­­mo disse Sócrates (o ex-jogador), vou jogar dominó no Passeio Pú­­blico. Respeito, mas por ora descarto esta opção. Aliás, tudo o que acontece pela primeira vez – mesmo induzido – merece reflexão.

Não há como esquecer a primeira viagem, a palmada no rosto ou o corte no pé. Coisas boas ou ruins, não importa. No meu caso, o primeiro e apaixonante colapso deu-se ouvindo pelas ondas do rádio a Copa de 1954. Surfei en­­tão num imaginário cósmico, en­­quanto durou o Mundial da Suíça. Foi uma espécie de grande amor,, meu fiapo de bigodinho... Instalou-se aí, uma tatuagem ir­­rever­­sível na minha alma esportiva.

O fascínio pela seleção húngara de Koscsis, Puskás e Czibor, me levava a sonhar em estado quase alterado, em um dia estar presente numa Copa. E talvez este so­­nho tenha despertado em mim, para o resto da vida, o direito à fan­­tasia. Não sei se tudo que ouvi na época eram fatos reais ou se havia muita lenda. O que vale é vivenciar um grande momento.

Bem, acordando outra vez pa­­ra o aqui e agora, ouvi nesses dias durante as coletivas no Rand Park Golf aquele blá-blá-blá da maioria dos jogadores. Luís Fa­­biano foi feliz em dizer que gostaria de desfilar no Brasil em carro aberto com a taça, porque sem­­pre sonhou com isso. Foi sincero. Vale mais do que o discurso ufanista de Dunga, pois do Pa­­raguai à Coreia do Norte sempre haverá um Lair Ribeiro com o mesmo papo do poder do pensamento.

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