Há um momento na vida que devemos nos recolher para voltar melhor. Ou não voltar. Uns insistem e se tornam chatos, cansativos, arrogantes. São políticos, cartolas, comunicadores, técnicos e por aí vai. Parece disco de vinil repetindo a mesma coisa quando engata a agulha. Aí está Renan Calheiros, Xuxa, Luxemburgo... a lista é grande.
Há aqueles que saem e voltam mais chatos ainda, como Maluf, Túlio Maravilha, Leão e outros bichos. Nada a ver com a idade – puro preconceito aritmético –, mas sim com o verbo, que é sempre o mesmo. É possível, entretanto, parar um pouco, reciclar, e talvez voltar diferente.
A águia é, entre as aves, a que vive mais, uns setenta anos. Para chegar à “terceira idade”, porém, aos quarenta ela deve tomar uma difícil decisão: nascer de novo. Pois aos quarenta, suas unhas ficam compridas e flexíveis, dificultando agarrar as presas com as quais se alimenta. O bico alongado e pontiagudo se curva. As asas, envelhecidas e pesadas, dobrando-se sobre o peito, impedindo-a de empreender voos ágeis e velozes.
Restam à águia duas alternativas: morrer ou passar por uma dura prova, ao longo de 150 dias. Esta prova consiste em voar para o cume de uma montanha e abrigar-se num ninho cravado na pedra. Ali, ela bate o bico contra a pedra, até quebrá-lo. Espera então, crescer o novo bico, para poder arrancar as suas unhas.
Quando as novas unhas despontam, a águia puxa as velhas penas e, após cinco meses, crescidas as novas, ela atira-se renovadas ao voo, pronta para viver mais trinta anos.
Quem não acredita nesta metamorfose, cobre os roteiristas do Planeta Animal, programa do Discovery Channel, minha fonte.
Levir Culpi, curitibano e atual técnico do Atlético Mineiro, líder do Campeonato Brasileiro, e que se diz um “burro com sorte”, seguiu o exemplo da águia. Em duas temporadas no Japão – uma delas durou sete anos –, recuperou bico, unhas e penas, renovando corpo e alma. Com inteligência, Levir mais aprendeu do que ensinou durante o “estágio” asiático.
Dá para dizer o mesmo em relação a Alex, convidado a assumir o departamento de futebol do Coritiba? Bem, a situação é um pouco diferente. Na função de dirigente, Alex começaria do zero, dentro de uma realidade administrativa brasileira, e subordinada a ela.
Acredito que o formigueiro da Capadócia, entre chaminés de fadas, igrejas e cavernas, só fez bem para Alex. Istambul e a Turquia reciclaram o jogador e o homem. A ideia parece muito boa. Para o Coritiba é o que existe de melhor no momento. Se aceitar o cargo, porém, Alex precisa entender que o clube é muito mais expressivo do que o seu inegável talento como jogador. E que também precisa recuperar o bico, as unhas e as penas.
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