Há mais de 70 anos, Cidadão Kane é considerado pela crítica o melhor filme de todos os tempos. É muito difícil que no futuro outros críticos especializados ousem desbancar a obra-prima de Orson Welles. Mas Kane não é o campeão de bilheterias – honraria que cabe a E o vento levou. Filme você baixa na internet, aluga ou mesmo assiste reprises em salas de cinema com a mesma qualidade ou até melhor. É diferente de outros entretenimentos. O desempenho dos atores está alinhado a todo um processo técnico de ajustes, montagem, roteiro, fotografia, trilha sonora, etc. Pode ser repetido.

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Uma competição esportiva é única. O uso do videotape traz um efeito morno. Ao vivo, a final da Copa do Mundo de 1970, por exemplo, durou 90 minutos. E só. Como um relâmpago. Instantâneo. Um flash. Assim como tantos outros momentos mágicos que qualquer um de nós um dia captou, não se apaga da memória. Nunca.

Busco uma explicação para a volta do público aos estádios brasileiros, elitizado, é bem verdade, mas de qualquer forma interessante, mesmo com a baixa qualidade técnica, crise institucional (CBF e alguns clubes), fracassos dentro do campo (Mundial, Copa América, Libertadores, Sub-20, Pan), e sem nenhum craque que possa encantar.

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As novas Arenas têm certo apelo, mas não são o principal motivo. O equilíbrio do campeonato soma um pouco. O que me parece essencial para esse boom de interesse é o marketing espontâneo que a mídia esportiva – rádio, jornal, internet e tevê – transmite. Motiva. Coloca a mercadoria no colo do freguês. Aí, então, um jogo ao vivo pode ser marcante. Fica registrado.

A torcida do Atlético é imbatível no quesito motivação. Já quebrou todos os recordes – Couto Pereira, Pinheirão, Vila Capanema, e até no Janguito. Será que amanhã, contra o Sport, supera os 39 mil torcedores de Espanha x Austrália? É possível, embora o ingresso mínimo a R$ 100 esteja tão fora da realidade quanto o preço do show que Gil e Caetano farão na Ópera de Arame, no fim do mês.

No cinema, Avatar afundou em números absolutos a bilheteria de Titanic. Atingiu a meta. É o líder do ranking em faturamento. Independente da qualidade da obra. No futebol, mesmo aqui, já tivemos em campo obras-primas da qualidade de Cidadão Kane e com o público de E o vento levou. Tudo é uma questão de conceito.

Perguntar não ofende

Dizem que paranistas pensam em vender a sede social da Kennedy para pagar as dívidas e formar um elenco capaz de voltar à Primeira Divisão. Se for verdade, uma coisa pode até se tornar concreta (pagar as dívidas). A outra, uma possibilidade (voltar à elite). Vender o último bem, não faz bem a ninguém. Como diria Sinhozinho Malta, personagem de Lima Duarte: “Tô certo ou tô errado?”