Numa antiga cidade, viviam dois sábios. Cada um rejeitava e desprezava o ensino do outro. Um era ateu; o outro crente.
Aconteceu-lhes, certa vez, encontrarem-se na praça pública e começarem a discutir e argumentar perante seus adeptos sobre a existência dos deuses. Depois de discutirem durante várias horas, cada um voltou para sua casa.
Na noite daquele mesmo dia, o ateu foi ao templo ajoelhar-se ante o altar e pedir perdão aos deuses por seus erros passados, enquanto o crente queimava seus livros e se entregava ao ateísmo.
Esta parábola de Khalil Gibran é interessante. Conheço muita gente que se diz dona da verdade, mas quando ouve alguém com forte argumento e poder de persuasão, logo muda de lado pela força e argumento do outro.
Com todo o respeito pela parte técnica na esfera judicial, o poder da argumentação, da oratória, do convencimento, na maioria das vezes prevalece.
Sexta-feira conversei rapidamente com Darci Piana, talvez hoje a figura mais representativa do Paraná Clube, a respeito do imbróglio que envolve a Vila Capanema e a União.
Embora afastado do dia a dia do clube, Piana é otimista e aponta o caso ainda para uma saída conciliatória com a União, apesar do voto contrário do revisor do processo, que corre no TRF-4 de Porto Alegre, na disputa pelo espaço do Durival Britto.
Segundo o ex-presidente, a indenização que caberia ao clube ao longo de mais de 50 anos é imensa. Muito maior do que aquela mencionada pelo magistrado do TRF-4. Levantado por peritos do clube “na ponta do lápis”, com juros e correções, seria mais viável à União acordar com o tricolor a sessão ou troca do terreno do que indenizar o clube pelas reformas e o legado - inclusive a Copa de 1950 - ali construídos ao longo de quase 70 anos.
O que está faltando ao Tricolor, porém, é um projeto de clube, não uma meta de time. E em qualquer projeto traçado, o estádio Durival Britto está incluído. Mas não há projeto de médio ou longo alcance.
No momento, a necessidade maior não seria de um advogado, e sim de um líder carismático. Alguém que venha a público expor um projeto real, e que escancare os prós e os contras envolvendo todo o patrimônio do clube e o seu futuro. Alguma coisa palpável.
Se não tem, que se busque. Aliás, a maioria dos clubes hoje está à mercê de um ou dois cabeças de torcida organizada. São eles que elegem e, aos tentáculos, começam a tomar conta de tudo. Muitos, nem todos, com intenções políticas. Dizem que isso é democracia. Também concordo. Democracia é o melhor regime, desde que excluído os demais...
Enfim, o Paraná Clube tem um nome forte, as cores mais carismáticas e o menor grau de rejeição. É fácil torná-lo potência. Falta um líder para comandá-lo. E que ouça. Sem ajoelhar-se. Sem queimar livros.
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