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Pequim - Congresso nenhum no planeta absorve tanto quando a Olimpíada. Existe um abismo de diferença entre este e qualquer outro evento. A Copa do Mundo é forte, mas representa apenas um esporte – embora o mais popular –, e as partidas são espalhados por várias cidades do país-sede. Os Jogos Olímpicos se concentram numa cidade, e envolvem números impressionantes. E Pequim bate todos os recordes, seja como investimento, número de participantes, segurança ou mídia.

Começa pela chegada ao aeroporto, o maior do mundo, com 1 milhão de metros quadrados – construção mais cara entre todas. Foram gastos cerca de R$ 6 bilhões para receber os 500 mil turistas aguardados. Os números não param por aí: 205 países participantes, mais de 10 mil atletas, 21 mil jornalistas e 70 mil voluntários. O investimento chinês com os gastos em infra-estrutura passa de US$ 40 bilhões.

Cobrindo pela quinta vez a Olimpíada, cabe-nos viver intensamente este próspero mês de agosto, respirando (com filtro) a poluição de informações, dentro e fora dos esportes.

A primeira coisa boa que observamos foram os sorrisos dos jovens voluntários pequineses: não é um sorriso amarelo, mas sim puro e branco. Ouvi alguém falar que chinês não olha, espia. Não é verdade. Aqui eles sorriem com os olhos e são muito gentis. Tão prestativos, a ponto de a chefa-geral do setor de informática, Niuyan Yan, vir pessoalmente resolver um problema em nossa "sucursal". Assim, para cada tarefa, três ou quatro voluntários se dispõem ajudar a nós e aos demais colegas de várias partes do mundo.

Ainda na saída de Curitiba, o companheiro Marcio Reinecken, jornalista e agora escritor, me sensibilizou com seu livro em "avant-première", com o título sugestivo: Você está aqui ou não está em lugar nenhum. Vem a calhar. Onde quer que você esteja, procure estar de corpo e alma. Senão é como tomar um cabernet sauvignon, e não libar o precioso vinho. A Olimpíada deve ser libada em toda sua essência. É com este paladar que estamos outra vez num megaevento pela Gazeta do Povo, agora na República Popular da China.

As extraordinárias valorizações da Bolsa a partir de 2006 levaram ao surgimento de cem bilionários no país, o maior número no mundo depois dos EUA. Ao mesmo tempo, os migrantes rurais chegaram a um universo de 150 milhões de pessoas que não encontraram emprego no campo e vagam à procura de ocupações temporárias. Que mal lhe pergunte: esta potência global emergente dá para ser chamada de comunista? Ou o presidente Hu Jintao, que fica no cargo até 2012, prefere manter o romântico batismo em homenagem a Mao?

Bem, os Jogos serão inaugurados oficialmente na sexta-feira, dentro do calendário chinês no Ano do Porco. Todo o preparo foi feito com precisão cirúrgica para dar certo. O ano, o dia, a hora e os minutos, tudo sob a regência do número 8, que dentro da milenar sabedoria daqui, indica prosperidade. Prosperidade que, entendo, terá o Brasil na história olímpica, com boas chances de ganhar mais do que 15 medalhas, número máximo alcançado em Atlanta-96. Mais importante, porém, que medalhas será esta pós-graduação, ou melhor, este doutorado que os dirigentes brasileiros devem levar daqui, para tentar organizar uma Copa decente em 2014 e, talvez, pela primeira vez na América do Sul, a Olimpíada de 2016.

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