Morro de inveja daqueles que conseguem ir direto ao ponto, encurtando o caminho. Quisera eu! Isso em qualquer segmento, seja na fala, na escrita, na arte, no jogo, enfim. Pessoas que nascem com este dom, para mim, são especiais. O planeta está poluído de tudo, e todo o excesso é lixo. Os gênios de fato são gênios porque são objetivos. E mais gênios ainda quando, pela necessidade conclusiva, brilham com o toque de classe.
Em cada caso, há vários casos. Pelé objetivava como ninguém o gol como a essência de sua arte. A perseverança vigilante da meta final fê-lo gênio justamente por descartar o excesso. Quando necessário para concluir a obra, ou mesmo para prepará-la, aí sim colocava a cereja no bolo.
No futebol, há técnicos – alguns competentes, porém chatos – que falam mais do que o necessário. Luxemburgo, que agora está na China, ganha disparado o troféu “Faustão Bueno”. Compulsão pura. E o que é pior, “se acha”. Por outro lado, tivemos Telê Santana, Otacílio, o próprio Muricy. Técnicos objetivos, falando o necessário.
Enfim, o poder da síntese é raro e também é belo. Outro dia assisti a um filme chamado A ilha do milharal, produzido e rodado na região da Geórgia. Um longa com apenas dois personagens (outros eventuais) – o avô e a neta. Uma grande obra de poucas palavras, e que concorre ao “Oscar” de melhor filme estrangeiro. As expressões dos atores dispensam legendas.
Sintetizar é difícil. É, ao mesmo tempo, uma forma de respeito ao outro. Ou aos outros. A Constituição dos Estados Unidos, criada há duzentos anos, é composta por sete artigos. A nossa tem 250.
Claro, nada a ver com a frase subserviente de Juracy Magalhães, embaixador brasileiro em Washington, depois do golpe de 64, “o que é bom, para os EUA é bom para o Brasil”. No caso, apenas uma constatação de objetividade.
Veja a falta de clareza para definir o que é mão na bola ou bola na mão. Essa regrinha conseguiu ser mais complicada do que a lei do impedimento. Quando ocorre, e ocorre com frequência, a decisão vai de acordo com a cabeça do árbitro. Tão lógica quanto uma decisão de “juiz” em um estado terrorista. O que confunde jogadores, imprensa, torcida e os próprios árbitros.
Não é possível deixar como está. Até porque a polêmica envolve todo o braço do jogador, não apenas a mão. Aconteceu quinta-feira no lance do gol do Coritiba. Dúvidas pra todos os lados.
É necessário clareza. Como, por exemplo, punir o toque de mão, validando o contato com braço e antebraço. Em qualquer ocasião. Seja intencional ou não. Uma forma, enfim, de acabar com a subjetividade.
No bom português, seja curto e grosso. Como os haicais de Leminski ou de Millôr. “A vida é um saque/Que se faz no espaço/ Entre o tic e o tac”.
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