Como falar da rodada deste fim de semana se a qualquer momento a Justiça pode suspender o campeonato?
O conteúdo dessa coluna no jornal físico (papel) poderia ficar inócuo por tudo o que as atitudes vergonhosas e imprevisíveis da federação vêm causando, ao desrespeitar a logística de clubes, atletas, árbitros, torcedores e mídia. Melhor então é refletir em síntese sobre o histórico da entidade.
Claro que o título acima é apenas força de expressão. Lembrar com saudades (ou saudade, no singular, como queiram os mais conservadores) de “Severiano”, perpetuado por 22 anos, e que foi o cancro maior do futebol paranaense de toda a história é piada. Hélio Cury, que era seu vice, porém, é tão ruim que me permite brincar com esse tipo de pesadelo.
A FPF completa em agosto 80 anos. Deveria comemorar a abnegação do trabalho voluntário de homens como Roberto Barroso, Plínio Marinoni, Gêneris Calvo, Motta Ribeiro, Haroldo Alberge e tantos estadistas do futebol paranaense.
O próprio José Milani, polêmico e criticado, foi peça chave para o crescimento do futebol do estado dentro do cenário nacional, quando incluiu o Ferroviário no fechado grupo Rio-São Paulo-Minas-Rio Grande do Sul.
Comemoração octogenária... Qual o quê! De Onaireves para cá, destruíram e leiloaram Pinheirão, sede do Tarumã, e mais do que isso, desmoralizaram a federação – por consequência o futebol paranaense – abocanhando a instituição para fazer dela balcão de negócios ignóbil e criminoso.
Por onde passaram tantos imortais, de 1985 para cá, os nossos clubes tão distraídos (ou impotentes) não perceberam como estavam subtraindo seus bens materiais e morais nas tenebrosas transações de aventureiros que buscam espaço na história do futebol, sem sentir remorso do mal que causam.
Manobras ardilosas deixaram de eleger gente com a experiência de Rafael Iatauro, por exemplo, com vontade samaritana de prestar serviços ao futebol apenas por paixão. E com enorme bagagem de conhecimento e trânsito dentro do esporte brasileiro.
Lembro-me do ótimo filme Hannah Arendt, história da jornalista e filósofa de origem judaica, que foi cobrir o julgamento do nazista Eichmann, quando resumiu toda uma teoria, mesmo diante de um indivíduo cruel: “O mal é estrutural”, abreviou. Eichmann, para ela, foi um medíocre executor de ordens.
Muitos judeus não a compreenderam e a criticaram. No fundo, porém, a dor de uma descendente era tão forte, que o desprezo pela “importância” de Eichmann seria a melhor forma de rotulá-lo. A forca ficou por conta do Tribunal de Israel.
Sou otimista. Breve a estrutura caduca vai mudar. Onaireves foi preso e deixou o cargo faz tempo. O atual presidente da FPF deve ser destituído pelo “Tribunal dos Clubes” e esquecido. Já.
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