O slogan “rouba, mas faz”, de autor desconhecido, teve seus tempos de glória na época em que Paulo Maluf surfava com o dinheiro público na crista da onda política de São Paulo.
Conseguiu manter durante vários ciclos dos jogos eleitorais, o recorde de ‘o maior cara de pau da história brasileira’, marca somente quebrada recentemente por Eduardo Cunha, nosso Phelps na arte do cinismo. O exemplo de Maluf estendeu-se para o esporte brasileiro como ponto de referência. Serviu para presidentes de clubes e de entidades.
Nos clubes, quem tem mão grande acumula funções de pião e mestre de obras. Trabalha do reboco a colocação de cadeiras. Constrói estádios. Alguns contratam. Montam elencos caros. Ganham títulos. Outros doam camisas, bolas, meias. Cada um na sua. Os meios – dizem e acreditam –, justificam os fins. A bem da verdade, sejamos justos, muitos são empreendedores destemidos.
João Havelange foi o grande mestre. Quem pode contestar um homem que no comando do futebol brasileiro foi tricampeão mundial, e que na presidência da Fifa expandiu o futebol para todos os rincões do planeta?
O grande equívoco de Havelange, e de vários outros dirigentes esportivos, porém, é que no embalo das conquistas e do empreendedorismo, incorporam a associação, no sentido lato da palavra, como propriedade sua, particular. Não é.
O fim de Havelange, o mestre dos mestres, poderia ser melhor. Com outro epitáfio.
Ingratidão
No longo discurso de encerramento dos Jogos do Rio, o presidente do COB, fez chover no molhado, pronunciando o óbvio protocolar. Pior do que isso foi omitir o nome de pessoas que foram decisivas para que as Olimpíadas viessem para cá. E que era o mais difícil: vencer as poderosas Madri, Tóquio e Chicago, no pleito de 2009, em Copenhague.
Pelé e Paulo Coelho, personalidades mundiais, fizeram o lobby de ocasião, enquanto Havelange e Lula atacaram no mérito. Foram decisivos. Com 24 anos de Fifa, Havelange fez um apelo aos delegados, para que votassem em favor da candidatura do Rio. Ele queria completar seus 100 anos de vida assistindo aos jogos no seu país.
Lula, com imensa popularidade internacional na época, passou o bastão para Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, discursar no tom da economia do país, projetando que em 2016 o Brasil seria a 5.ª maior economia do mundo. O atual ministro impressionou a plateia.
Não foram as belezas naturais, nem a hospitalidade do povo carioca que trouxeram os Jogos para cá. No segundo turno, quando Rio e Madri foram para a final, os simpatizantes de Tóquio e de Chicago migraram para o Rio, graças a Lula e Havelange. Daí saiu o massacrante placar de 66 a 32.
O esquecimento de Lula foi por constrangimento político. Sem razão. O momento era outro. Havelange foi o objeto descartável. Bom enquanto útil. A “Geni” da história.
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