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Johannesburgo - Ouvi muitos fados de Amália Rodrigues, li e conheci pessoalmente José Saramago, mas a seleção portuguesa não me traz boas recordações. Isso porque os anos rebeldes de uma década marcante me colocaram na rota 66 e fui para a Copa da Inglaterra.

Para a geração daquela época, ou boa parte dela, viver não tinha o selo de qualidade, e portanto a vida não nos dava garantia. Navegar, sim, era preciso. Atra­­vessei então o Atlântico – eu e Celso Toniolo – na esperança de ver o "tri" (campeonato mundial do Brasil), pensando até ficar pelas bandas de Lon­­dres ou Liverpool. Não deu pois o dinheiro estava mais curto do que as saias de Mary Quant e a dignidade não nos permitiu per­­manecer à qualquer preço.

Mas qual o quê! A seleção se deu mal e caiu logo na primeira fase, justo contra Portugal, de­­pois de ganhar da Bulgária e per­­der para a Hungria. Eusébio e Vicente foram nossos carrascos – este torturando Pelé e aquele bombardeando o goleiro Manga: Portugal 3 x 1.

Essa ferida já foi cicatrizada, mesmo porque naquela época, mais do que jornalista, era eu um torcedor vidrado em Copa do Mundo. Ainda gosto, claro, pois do contrário não estaria aqui, mas acredito que a seleção brasileira e eu amadurecemos o suficiente, não necessariamente nessa ordem.

O jogo de sexta-feira será em Durban (chegaremos hoje), an­­tiga Natal, batismo de outro ilus­­tre português, o navegador Vasco da Gama, e onde o poeta e escritor Fernando Pessoa passou boa parte de sua juventude. Não por acaso, a torcida lusitana será bem maior que a brasileira.

Pessoa, Saramago, Vasco da Gama e Amália se eternizaram. São ícones. A vida é incalculável no sentido de momentos, decisões e medidas. A vida não é exata, não é precisa. Para viver não basta jogar, escrever ou cantar. Para viver é preciso sentir, mergulhar em si mesmo e encantar.

Adoro Portugal e seus ilustres filhos, e para demonstrar toda a minha gratidão, desejo ardentemente que nesta sexta-feira Cris­­tiano Ronaldo e sua frota encontrem finalmente o caminho das Índias...

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