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O clima mudou bastante nas últimas décadas e bagunçou tudo. Esta semana, porém, voltamos a usar guarda-chuva, capa e meia de lã. Alguns até ceroula. Outros a tal da galocha, se é que ainda existe. É a Curitiba do século passado. A nossa Londres.

Velhos tempos, coisas novas. Até a segunda Copa do Mundo do México, em 1986, era raro um jogador canhoto jogar pelo lado direito do campo. Imagine só o Pepe, do Santos, jogando pela ponta direita?

Depois que o sinistro Maradona fez aquele gol genial, talvez o mais bonito de todas as Copas, driblando toda a defesa da Inglaterra pelo lado direito, muitos começaram usar a “mão inglesa”.

Na Copa anterior, na Espanha em 1982, Telê Santana usou o nosso Dirceu pela direita apenas no primeiro jogo, mas não deu certo. Maradona foi de fato o precursor. Pelo lado esquerdo, no Mundial de 1966, Feola escalou o destro Jairzinho contra a Hungria, na fria e chuvosa Liverpool. Também não vingou.

Hoje, Messi é a maior referência pela direita, onde Robben, do Bayern, faz quase o mesmo papel. Todos se dão bem. Na Europa, os destros jogam pela esquerda, como Neymar. No Brasil não é comum.

Tostão, Gerson e Rivelino não ocupavam o lado direito. Era um conceito preestabelecido que fluía e encantava. Na final contra a Itália, na Copa de 70, Jairzinho, aí sim, correu da esquerda para o centro, de onde começou a jogada para o gol de Carlos Alberto. Era muito raro.

A sociedade, como um todo, é majoritariamente destra. Dizem que os canhotos representam apenas 10% da população mundial. Há conceitos, porém, de que eles possuem habilidades criativas mais acentuadas. Picasso, Machado de Assis, Einstein, Jimi Hendrix eram canhotos. Ayrton Senna também.

Apesar da dificuldade em lidar com as coisas do dia a dia – como o mouse, a tesoura e outros objetos -, o canhoto no esporte confunde e dificulta o adversário. Principalmente na esgrima, no boxe e no tênis, caso do nosso Guga, por exemplo. No vôlei e no futebol, agora também.

Os canhotos aprenderam a se superar. As mulheres canhotas já foram perseguidas e acusadas de bruxas. O lado esquerdo era o pecado, a tentação. Joana d’Arc foi o pecado. Angelina Jolie a tentação. Voltando ao esporte, me vem à memória uma das maiores estrelas do nosso basquete, a Magic Paula. Seus dribles eram estonteantes. Os arremessos, precisos. Endoidava as adversárias.

Um time habilidoso de futebol precisa, ao menos, de dois jogadores canhotos. Tangenciando da esquerda para a direita ou não. O Atlético tem hoje como referência Nikão. O Coritiba teve Alex. No Paraná, brilhou Ricardinho.

Embora o termo italiano “sinistra” seja pejorativo, algo incorreto, a palavra latina original “sinister”, que significa esquerdo, queria dizer “afortunado”. Sorte de quem equilibra o conjunto, usando também a mão inglesa.

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