Ontem à noite, quando acabou o jogo e a esperança do ouro olímpico para futebol feminino do Brasil, continuei na tribuna de imprensa do Estádio dos Trabalhadores até o final da solenidade de entrega das medalhas. Não para sublimar aqueles instantâneos de medalhas, flores e hinos, que, apesar bem feitos, repetem-se dezenas de vezes nesta reta final dos Jogos. O que eu queria mesmo era enxergar na alma dessas meninas o grau de sofrimento que sentiam.
Lá de cima, num plano geral, o que se via era a postura dessas artistas com a bola no pé e operárias na luta pelo pódio máximo, arrasadas no campo de batalha.
Marta e companheiras, "bem que eu me lembro, sentadas ali na grama do Estádio dos Trabalhadores, observando hipócritas disfarçados, rondando ao redor (Bob Marley e Gil)".
Pelo monitor dava para ver a microfisionomia do rosto de cada atleta, e sua dor mais profunda. Pode parecer estranho, mas para mim foi muito bom ver o choro de Cristiane, o rosto amargurado de Marta e o cumprimento sério de todas elas para o sorridente Josef Blatter, presidente da Fifa.
Não que me alegrasse, mas aqueles momentos me trouxeram reflexões claras de derrotas do futebol masculino, com reações bem diferentes. Por exemplo, o beijo de Zagallo no técnico da França na Copa de 98, o sorriso subserviente de Robinho para Zidane há dois anos na Alemanha e agora o caloroso abraço de Ronaldinho Gaúcho no argentino Messi.
Não há que se ter vergonha do choro profundo, verdadeiro, digno. Pior é dissimular com um riso falso (ou não) na hora da amargura.
Essas meninas, como Luther King, tinham um sonho. Um sonho de movimento pela igualdade de direitos entre o futebol masculino e feminino, pelo menos na sua estrutura e organização. Elas queriam outros "maracanãs" de apoio, como naquela final do Pan-Americano do ano passado, no Rio de Janeiro.
Não deu para ver este sonho se tornar realidade agora. Algumas delas transcenderam e o corpo não terá mais a energia suficiente para os movimentos. Mas o legado daqueles que sacrificam o corpo um prol de uma causa nobre é eterno. O corpo não é eterno, mas o espírito é. O que elas nos passaram foi a pureza, a essência, o Sopro.
No woman, no cry. Melhor é deixar para trás, porque tudo tudo vai dar pé, tudo tudo vai dar pé...
Pelé pode desequilibrar?
Na apresentação de Pelé com "cônsul" do Brasil para a candidatura do Rio de Janeiro aos Jogos de 2.016, o "Rei" não foi nada modesto em dizer que deu apoio aos Estados Unidos e ao Japão para as Copas do Mundo que estes países acabaram sediando. Quis dizer nas entrelinhas que com sua entrada na "briga", meio caminho já estaria andado. É muito bom este otimismo, porém o que mais me preocupa é quando se lida com verba pública de muitos "zeros". Já houve Olimpíadas tocadas somente com dinheiro da iniciativa privada, quando o controle é bem mais sério.
Se o Rio for escolhido, a América do Sul inteira será motivada. E precisa. O número de medalhas do nosso continente é ridículo.