Andrea Bocelli, que se apresenta quarta-feira na Baixada, gosta de futebol, era fã do português Eusébio, e perdeu a visão ainda criança depois de um choque de cabeça durante uma pelada com amigos.
O ídolo musical de Bocelli era Pavarotti, que ao lado de José Carreras e Plácido Domingo, aproximaram um pouco mais a música erudita do grande público, através do futebol.
“Os três tenores”, como ficaram conhecidos, cantaram juntos pela primeira vez durante a Copa do Mundo de 1990. Naquele Mundial não pude vê-los cantar e encantar ao vivo.
Em 1994, porém, na véspera da final Brasil e Itália, pude vê-los num espetáculo memorável em Los Angeles, onde cantaram pela primeira vez “Aquarela do Brasil”.
Assim como Andréa Bocelli, todo o grande artista tem seu lado humano nem sempre levado ao público e que por vezes o torna mais valoroso ainda.
Por questões políticas, Carreras e Plácido tornaram-se inimigos lá pelos anos 1980. Não cantavam durante um mesmo espetáculo, mesmo que separados.
Anos mais tarde, Carreras descobriu que estava com leucemia. Começava sua luta em busca da cura. Além de transfusão de sangue, submeteu-se a vários tratamentos, como o transplante da medula óssea.
Quando não tinha mais dinheiro, soube que havia em Madri uma fundação beneficente, com a finalidade única de apoiar o tratamento de leucêmicos.
Tratando-se na fundação, Carreras venceu a doença e voltou a cantar. Equilibrou as finanças. Por gratidão associou-se a ela. Foi quando descobriu que o fundador e presidente daquela entidade era o então desafeto, que ficou no anonimato para não o constranger.
Mais tarde, num encontro imprevisto durante um show, Plácido Domingo é interrompido por Carreras que humildemente ajoelha-se aos seus pés, pede desculpas e lhe agradece em público.
Com um forte abraço, os dois selaram o início de uma amizade pura. Mais tarde perguntaram a Domingo por que havia criado uma fundação para atender um rival. “Porque não se pode perder uma voz como essa... e um amigo tão querido”, respondeu.
Com a vinda do tenor Andréa Bocelli para Curitiba, o polêmico Atletiba de domingo me fez lembrar a incrível história de Plácido Domingo, descoberta anos depois.
A generosidade do presidente rubro-negro passou despercebida. Nada se falou que, jogando fora de casa, o bom samaritano pensou apenas ajudar o primo da Rebouças, pagando pelo aluguel da Vila.
E que, no mesmo ato, livrou o coirmão – em situação mais delicada que a sua – da inconveniência com a grama sintética. Nefasta a quem não está habituado. E que favorece apenas a ele, Atlético.
Altruísmo puro. Descobri agora.