No começo da década de 1990, a cidade de Curitiba ganhou um marketing nacional espontâneo, oriundo de entidades de dois polos, do esporte e da economia.
O Bamerindus não era o maior banco do Brasil, mas crescia como instituição sólida, e abusava da criatividade com slogans inteligentes em rádios e tevês. Era então uma empresa local de referência nacional.
Contemporâneo ao banco, surge no esporte o Paraná Clube como a nova proposta de modernidade para o futebol brasileiro. O clube nascia agregando 30 mil sócios, coisa incrível para a época. Atrás apenas do semiamador Juventus, de São Paulo, que não tinha apelo de torcida.
No campo da propaganda indireta, o Bamerindus e o Paraná Clube iluminavam por vias indiretas a cidade de Curitiba. O jingle do banco “O tempo passa, o tempo voa, e a poupança Bamerindus continua numa boa”, era assobiada nas ruas. Não saía da cabeça das pessoas. Virou hábito.
Nos outdoors “Paraná, o clube do século XXI” despertava a curiosidade para o novo. O futebol brasileiro queria saber o que estava acontecendo na ‘República de Curitiba’ da época.
João Henrique Areias, criador do Clube dos Treze, então ‘o cara’ do marketing esportivo brasileiro, com influência direta nas grandes marcas de produtos, e trânsito no mercado top do futebol, me procurou certo dia no Rio de Janeiro – na época eu estava ligado à TV Manchete – para saber do Paraná Clube.
Quando falei do potencial do clube, Areias – que dava palestras sobre marketing para Grêmio, São Paulo, Cruzeiro, Inter, etc – entrou em contato com a diretoria e propôs um trabalho em conjunto visando projetar o Paraná no mercado internacional como um dos grandes do mundo.
Se dispôs morar em Curitiba, pois segundo ele, “a cidade e o clube têm a seriedade que eu não encontro em outros lugares do país”. Resumo da ópera: o Conselho Deliberativo do clube, nada progressista, preocupado com o boliche, com o baile do Havaí, rejeitou a proposta. Areias dava as cartas no futebol brasileiro.
O Bamerindus, por outras razões, entrou em colapso financeiro em meados da década de 1990. Nem o PROER conseguiu salvá-lo. Acabou sendo incorporado ao HSBC.
O Paraná Clube teve seus momentos de glória. Bela sequência de títulos, manutenção de associados, mas sem planejamento e ousadia para voos maiores.
O que assusta hoje não são as quatro derrotas seguidas e o esquartejamento de quinta-feira em Goiás, mas sim a falta de liderança dentro de um conselho fragmentado e pusilânime.
A atual diretoria, medíocre, é apenas consequência. Acho, no entanto, que ainda dá para evitar a quebra ou incorporação. O Paraná Clube precisa de uma voz firme, bem-intencionada e sábia para derrubar ideias conservadoras. Os modelos de hoje são outros, como Londrina e Chapecoense, por exemplo.
Mas... “o tempo passa, o tempo voa”.
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