Os torcedores mirins, alemães ou não, aprenderam a pronunciar carinhosamente o nome "Ronaldinhoooo", porque existe uma criança-esperança dentro da alma do nosso melhor jogador. Queridíssimo em Barcelona, onde administra com humildade a fama alcançada, Gaúcho frustrou até agora críticos, técnicos e torcedores adultos. Mas continua entusiasmando as crianças, porque criança tem nos olhos um colírio natural que reflete o brilho pela magia do seu herói. E o herói é sempre o personagem que sai perdendo, enquanto o vilão se enche de graça, barbariza, mas acaba desaparecendo como uma lesma diante do sal.
Pois é este o herói que veremos amanhã, para convencer, além das crianças, os duros e implacáveis críticos da bola.
Ronaldinho tem olhos de lince, e como os filhotes deste animal, está levando mais do que uma semana para abrir os olhos (para o Brasil, a Copa começou faz duas semanas). Em compensação quando eles se abrem, passam a ter uma visão apurada, enxergando longe e até através das paredes, como acreditavam os povos antigos.
Quero um Ronaldinho amanhã enxergando além de Zidane, além de Thuram, vendo a bola atrás do prepotente Barthez, e nas redes, de preferência.
Penso que contra a França seja "o" jogo para Ronaldinho e também para Roberto Carlos. Os dois refletem uma vontade de pulsar forte, de colocar alma e de explodir, de tal forma que não conseguem esconder dos jornalistas do mundo inteiro que se acotovelam para entrevistá-los.
É uma geração, enfim, que está sendo colocada em cheque, passiva até de ver ofuscado o último título mundial, caso amanhã seja eliminada. E todos os jogadores sabem muito bem disso.
E a França? Bem, gosto muito de Piaf, de Aznavour, de Belmondo, de Voltaire, e até no futebol admirei talentos como Koppa, Fontaine e Platini. Mas ainda o que mais me fascina na cultura deste país, é a Queda da Bastilha. Já a seleção francesa de futebol, é velha e experiente. Não mais do que isso. Alguns de seus jogadores fazem como o sapo ao ser atacado por uma cobra: incham o corpo e elevam-se nas patas, parecendo mais assustadores do que são. Prefiro deles a doce lembrança de Estocolmo na Copa do Mundo de 1958 (Brasil 5x2, com três gols de Pelé), do que os dissabores de 1986 e 1998.
Voltando ao tema, creio que é a hora e a vez de nosso primeiro violino, estrela guia e patuá, luzir em plena lua nova de um novo semestre. E será no mesmo palco iluminado onde massacramos a Argentina há um ano atrás. E foi onde o herói das nossas crianças comemorou como elas o seu último gol pela seleção do Brasil: com um sorriso puro e um olhar risonho.
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