No caminho de ida para a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos, do metrô Cantagalo ao Maracanã, observei muitas famílias, crianças, e principalmente mulheres. Todo mundo alegre e feliz. Uma transpiração de liberdade, igualdade e fraternidade. Tal qual o lema da Revolução Francesa.
Não, não é bem assim. Longe disso. Na verdade, a festa no vagão era apenas de uma esmagadora elite econômica e social, com o privilégio de assistir ao vivo, o espetáculo de abertura olímpica aqui no Rio. Sobre isso, todos nós temos consciência.
O outro lado da questão, e o que me faz lembrar agora já no Maracanã, é o preconceito que as mulheres ainda sofrem quando o assunto é esporte. Na sala de imprensa – comentava há pouco com o Albari Rosa, nosso mestre da fotografia –, são raras as mulheres-fotógrafas.
Lembro-me que na Copa das Confederações de 1997, o Rei da Arábia Saudita proibiu a entrada no estádio de Riad, da jornalista espanhola Cristina Cubero. Depois do protesto de todos nós que cobríamos o evento, e com intervenção da Fifa, o monarca abriu uma exceção. Foi a primeira mulher a entrar num estádio da Saudita.
Parece coisa das arábias, mas não é não. A homofobia que atinge as mulheres para o trabalho no esporte, ainda é forte. Se o propósito é competir, mais difícil ainda. E isso tudo com o “aval” do precursor das Olimpíadas da Era Moderna.
O senhor Pierre de Fredy, o francês que adotou o título nobiliárquico de Barão de Coubertain era contra a presença de mulheres nos Jogos Olímpicos. Em 1900, elas eram apenas 11 – seis tenistas e cinco golfistas.
Furioso, logo na abertura dos Jogos de Amsterdã, em 1928, o barão subiu à tribuna e pediu demissão do cargo de presidente de honra do COI. No discurso, acusou seus seguidores de haverem “traído o ideal olímpico, permitindo a presença de mulheres”.
Por esta razão, embora o tema olímpico me abra um leque de assuntos os mais variados, quero enfocar como tema do mais alto significado dentro do esporte, a mulher e seu grau de dificuldade para nele se inserir.
As atletas de um modo geral me fascinam. Daqui e de fora. E o maior símbolo para expressar esse espírito guerreiro é a incrível Yane Marques, nossa porta-bandeira.
Sertaneja, nordestina, de família pobre, é a representante do Brasil no pentatlo, onde conquistou medalha em Londres. Sabe lá o que é nadar, esgrimir, cavalgar, correr e atirar numa mesma sequência? E subir ao pódio olímpico? Com apoio beirando a zero?
Pois é, no total são 5.180 mulheres/atletas que estarão nesses Jogos, ou 45% dos participantes. O percentual feminino do Brasil, no entanto, caiu de 2012 para cá. É uma questão cultural. É o conceito de fragilidade passado às meninas por aqui.
Em outros países é diferente. Os Estados Unidos, por exemplo, estão aqui no Rio com a maior equipe de mulheres de toda a sua história nos Jogos. Pela segunda vez, será maior que a equipe masculina. A China e a Austrália também seguem esta tendência.
São fatos. Apenas fatos. Fica aqui o nosso tributo. Nossa louvação. E que a chama dessas maravilhosas mulheres/atletas, seja imortal enquanto dure. E que dure muito. Apesar do preconceito do Pierre de Coubertain. Que pobreza, nobre barão!
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