Quinta-feira passada, por sugestão da minha mulher, fiz acupuntura para aliviar a dor mais comum para os maiores de 18 anos, a coluna.
Antes das agulhadas, o médico fez a preleção de que poderia doer um pouco, pois, segundo ele, sem a dorzinha da picada, o método não funciona.
Estendido no colchonete, você entra num processo de metamorfose. Seu corpo mais parece um porco espinho. Antes da primeira espetada no dedão do pé, fiz um exercício mental que costumo aplicar antes de qualquer previsão de dor. Imaginei o dedo sendo decepado por um golpe de faca, sem anestesia.
Posso garantir que essa técnica funciona para os corajosos como eu. É um exercício mental, digamos, sadomasoquista. No meu caso funcionou numa boa, e as agulhadas, o que o mais importante, aliviaram as dores da coluna.
Vivemos hoje uma tensão generalizada por conta dos noticiários político/policial. Contagia e enrijece. Aliás, coincidência ou não, logo que saí da clínica, soube que Eduardo Cunha acabara de receber cartão vermelho. Foi para o “banco dos réis (sic)”, como ele mesmo falou. Acredito que este fato ajudou no meu relaxamento.
O final de semana deve ser de alegria e descontração. Dia das Mães, almoço em família, abraços carinhosos na matriarca, boas lembranças, hora de matar a saudade. À tarde, decisão do Paranaense.
Viajei bastante neste começo de ano, comentando jogos do Estadual. Conversei com muita gente do interior e daqui . Contatei o projeto do Londrina (leia-se Sérgio Malucelli), a capacidade técnica de Claudinei Oliveira no Paraná, vi também a decadência de Operário e Maringá.
O extrato fica por conta de Coritiba e Atlético que decidem o título. O que não é e nunca será surpresa. Não será – como não foi domingo passado – um clássico de primor técnico. E nem se cria ilusão dentro da estrutura atual do futebol brasileiro.
Raros são os nossos talentos. Técnicos da base, na maioria são toscos. Fernando Diniz, treinador do modesto Audax que passou aqui pelo Paraná, a sensação paulista, é diferenciado. Extrai o máximo da habilidade, para depois sim impor a disciplina tática e o padrão coletivo. É um treinador que não tolhe a alma do garoto que vem da base. Lembrando uma fala de Al Pacino em Perfume de Mulher: “Nada é mais triste que ter o espírito amputado. Para isso não há prótese”. Daí vem a diferença.
O título poderia ser decidido pelo talento individual. Como haverá dentro de campo pouco diferenciados, Autuori e Kleina devem ser cirúrgicos no trabalho mental e no estudo dos pontos sensíveis do oponente. Cravar a agulha no ponto vulnerável é decisivo. Como Autuori instruiu no primeiro gol do Atlético.
Por outro lado, suportar a dor da picada no 3 a 0 pode servir de relaxante para uma virada quase impossível e surreal do Coritiba.
Ganha o título quem for preciso da cabeça do treinador ao dedão do pé do artilheiro.