Escrevo aqui de um apartamento de um hotel de Foz do Iguaçu, onde por mero acaso, sou o único hóspede que não faz parte de um encontro de juízes federais, vindos de várias partes do país. Entre eles estão também alguns ministros, como Aloísio Mercadante, da Educação, e Ricardo Lewandowski, do Supremo. Antes que algum leitor pergunte “E daí?”, explico: Daí, por outro acaso, o presidente do STF sentou-se ao lado da minha mesa no café da manhã.

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Pensei em perguntar: Ministro, na qualidade de cidadão brasileiro, e com toda sua bagagem jurídica, o que o senhor acha de o Brasil vender parte da Amazônia para cobrir a dívida do país, hoje em torno de R$ 50 bilhões? Ministro, essa hipótese é constitucional? E se constitucional, Ministro, o senhor entende que o alto clero de Brasília tem o direito de colocar aquela mata sagrada à venda sem consultar a população brasileira através de um plebiscito?

Claro que não perguntei nada disso a Lewandowski. Foi apenas um pensamento metafórico, oriundo da decisão do Conselho Deliberativo do Paraná, que aprovou na noite anterior, a venda da sede social da Kennedy, sem consultar os associados do clube. Foi uma traulitada sem precedentes no lombo de todos que ajudaram o Tricolor na construção do maior patrimônio do futebol brasileiro, atrás apenas do São Paulo.

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Depois do veredicto, o presidente do Conselho, Rodrigo Vissotto, com apoio de 70% dos presentes, disse de alto e bom som que “este foi um dia histórico [para o clube]”. De fato o 29 de novembro é tão “histórico” para o Paraná Clube quanto 21 de abril deve ter sido para... Silvério dos Reis. A decisão do Deliberativo, senhores, foi cruel para a memória de Tarquino Todeschini, fundador do Savóia, um dos clubes da árvore genealógica do Paraná, e que simboliza tantos visionários como Orestes Thá, Manoel Higino dos Santos, Waldomiro Perini, Hipólito Arzua, Erthon Coelho de Queiróz, e tantos outros.

É admissível vender um bem para adquirir ou melhorar outro. Nada se vende, porém, para pagar dívidas. Pior ainda quando esse imóvel é um dos últimos que sobra. “Justificar” a venda como uma forma de evitar a desvalorização do imóvel, é subir no ringue e jogar a toalha antes de começar a luta para não apanhar. Então, por que aceitar o desafio? Difícil é constituir um imenso patrimônio material, físico e concreto como aqueles homens brilhantes, sem interesses, construíram. Hoje não há nenhum projeto inteligente e profissional no Paraná Clube. Nenhuma arquitetura criativa foi apresentada para, através do patrimônio que o clube ainda possui, fazer caixa.

Tudo isso é lamentável.

Será que aqueles que avalizaram a venda do patrimônio de um clube que é de muitos, numa situação particular semelhante, agiriam da mesma forma?