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Johannesburgo - Mais do que um simples toque na bola, o pontapé inicial do mexicano Giovani dos Santos no jogo de abertura simbolizou o rompimento de outra barragem. O país, o continente e a raça africana desatam, depois deste kick off, o último nó do preconceito esportivo. As ofensas racistas no es­­porte serão sepultadas depois deste Mundial.

O jogo África do Sul e México não foi nenhum primor e o som das vuvuzelas irritam os ouvidos. Parece um enxame de abelhas e excede os decibéis toleráveis. Mesmo assim foi uma sexta-feira gratificante. Deu para testemunhar, digamos, a versão para o futebol do filme Invictus, com mulheres, crianças, mulatos, brancos e negros vivendo momentos eletrizantes.

Estamos no berço da humanidade, que deve ser embalado com carinho e respeito durante o Mundial, pois foi aqui em Johannesburgo que pesquisadores descobriram o fóssil mais antigo do homo-sapiens, apelidado carinhosamente de "little foot"(pezinho). Coincidência?

Permito-me, pois, dar tréguas ao ranço e ao rigor crítico sobre a estrutura do país (será que a Copa de 94 nos EUA não teve problemas?) que abriga um megaevento como este. Prefiro ressaltar o brilho nos olhos das crianças do Soweto, a dança das negras gordas e simpáticas e o sorriso franco deste povo que transborda alegria pelo futebol.

A festa de abertura lembrou o público das antigas gerais dos nossos estádios. O torcedor solto, espontâneo, livre das torcidas organizadas. Assim foi e é o africano que vem aos estádios de futebol, e é assim que o futebol resgata a sua essência.

Mas a pergunta é: como será a Copa dentro do campo de jogo? A tendência, vendo Uruguai e França pela televisão, é que a força física e os bloqueios de meio-campo destruam a criatividade. Temo, mas confio que, inspirado na coragem, perseverança e inteligência de Madiba, ou na habilidade e na fé do bispo Tutu, os talentosos atacantes – Robinho , Messi, Cristiano Ronaldo... – consigam romper os grilhões defensivos dos carcereiros da bola.

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