O último treinador que conseguiu passar tanta alegria em jogar pela seleção brasileira foi Telê Santana, há 34 anos, no Mundial de 1982.
Tite não esconde a receita e busca agora o mesmo elixir para resgatar aquele futebol que encantou o mundo, embora tenha perdido a Copa.
Telê não apenas reuniu craques - Zico, Falcão, Júnior, Sócrates, Leandro, Cerezzo, Éder -, como transmitiu a eles a ideia de que o futebol pode ser uma diversão com responsabilidade.
Tite herdou quase os mesmos jogadores de Dunga e de Felipão. Mexeu pouco na escalação, mas muito na cabaeça. É visível o prazer, a alegria da atual seleção no trato com a bola.
Acho até melhor esses intervalos nas convocações, para que homeopatia eficaz do técnico não vire xarope. Às vezes uma sequência do mesmo remédio trás efeitos colaterais. Enjoa.
Se a seleção vive um bom momento, Neymar atravessa uma fase técnica excepcional. Está jogando demais. Na habilidade do drible, na percepção de espaço, na visão para o lançamento, na conclusão ao gol.
Os números projetam o craque, talvez como o melhor de todos, abaixo apenas de Pelé, o que é óbvio. Neymar chegou aos 49 gols, devendo ultrapassar em breve Romário, alcançando talvez em dois anos, ou menos, Ronaldo que fez 62.
A fase atual do jogador é encantadora. Dentro do campo, em determinados momentos, parece a reencarnação de Garrincha (no gracejo da finta), a reminiscência de Careca (na velocidade), o raciocínio instantâneo de Tostão (no curto espaço).
No entanto, Neymar irrita pela compostura. Ou descompostura. Não espelha o comportamento a irreverente de Maradona. Nem o bad-boy Edmundo. Ou o rebelde George Best. Tampouco Sócrates, o contestador. Menos ainda Caszely, o político.
As atitudes de Neymar fogem do padrão normal de forma infantil. Burra.
Neymar provoca e é provocado. Agride e é agredido. Será que foi um piá mimado? É provável. Não lhe impuseram limites? É possível. A falta de limites é nociva para qualquer criança, seja ela de origem humilde ou não. Neymar perde fácil a noção de limites.
Olhando para o Tite, que não tem nada a ver com isso, parece a figura do pai que passa vergonha numa festa, no shopping, tentando controlar os berros do filho. A criança quer sorvete, chocolate, se joga no chão.
São filhos de pais que passam a mão na cabeça quando deveriam agir com mais rigor para educar. Um tapa que não machuca é justo, merecido, explicado. Não é violência, mas sim disciplina e corretivo.
A generosidade financeira de Neymar para com a família é uma coisa. O exemplo que ele transmite aos fãs pelas atitudes é outra. A responsabilidade pública que ostenta é imensa, na medida em que milhares de jovens nele se espelham.
A seleção está muito bem para o nível técnico das eliminatórias. Neymar Júnior - é bom que se diga, longe do “monstro” (no pior sentido) pintado por Renê Simões - foi uma criança mimada que precisa de uma dura, de um cascudo, ou de uma boa chinelada do Neymar-pai. É a regra para enfrentar o mundo que dá tanto tapa na gente.
Bichos do Paraná
Gratificante ver três titulares da seleção brasileira que não saíram daqui como protagonistas, jogando muito bem: Fernandinho (Atlético), Giuliano (Paraná), e Miranda (Coritiba). Nem a Mãe Dinah poderia prever.