A primeira notícia que ouvi pelo rádio na manhã desta sexta-feira (24) foi sobre a preocupante saída do Reino Unido da U.E. e suas consequências. Inclusive para o futebol. O fato, de repercussão mundial, me fez refletir. Há exatos 50 anos, eu e meu saudoso amigo e compadre Celso Toniolo, saímos em busca de uma doce loucura que marcou toda uma vida profissional: a Copa da Inglaterra, em 1966.
Londres, semanas antes de começar o grande evento. Não tínhamos credencial, o dinheiro estava mais curto do que as saias de Mary Quant, e o caminho pela frente seria longo como os cabelos dos beatniks, de Piccadilly Circus. Depois do primeiro contato na BBC, buscamos notícias com o delegado da CBD (atual CBF) Luis Murgel, no luxuoso Royal Garden Hotel, em Kensington. Soubemos que a Federação Inglesa havia questionado o uso do café brasileiro pelos jogadores, insinuando dopagem. “E o chá que vocês bebem, não estimula?”, teria respondido Havelange, chefe da delegação.
Era o lado britânico que eu desconhecia. A prepotência. Dias depois começava a Copa mais violenta da história do futebol. Paralelo aos jogos, sem lenço e sem documento, nos divertiu a Carnaby Street, King’s Road, e de quebra algumas peladinhas no Hyde Park. Vivenciamos, ao vivo e a cores, o extrato de uma década marcada por grandes mudanças de comportamento, onde não se elaborava planos utópicos, corria-se atrás. O período era de efervescência cultural e criadora.
Saímos de um Brasil que cantava Vandré, que assistia “Blow-Up”, de Antonioni, para um mundo dos Beatles. Deixamos uma Curitiba onde quem dava bola era o Ferroviário, de Sicupira e Bídio (que golaço naquela final contra o Coritiba!), para uma abertura de Copa do Mundo, com Banks, Charlton, Pedro Rocha e Mazurkiewicz. O Brasil foi um fiasco. Em três jogos usou 21 jogadores (Edu, do Santos, com apenas 16 anos, não jogou) e foi eliminado. Além da abertura Inglaterra x Uruguai, acompanhamos dois jogos do Brasil em Liverpool. O “English Team” ganhou o título. Ou melhor, deram a eles a taça. De lá para cá tudo mudou. O futebol inglês abriu as portas para o mundo. Africanos e sul-americanos colocaram swing na rigidez da Liga Britânica. Assim como em todo o futebol europeu.
A vitória do Brexit – fusão de “britain” (diminutivo de Grã-Bretanha) com “exit” (saída) – provoca um temor no mundo político, econômico e social. A Liga Inglesa tem menos do que 50% de jogadores locais, e o resto são atletas com passaporte comunitário e de outras partes do mundo. Um retrocesso.
O mundo como um todo, e o da bola em particular, vive um momento nervoso. Porém tudo é cíclico. Durante os anos 1960 havia o pânico da “Guerra Fria”. John Lennon e uma geração revolucionária vieram para oxigenar duas ou três gerações. Com a suavidade de canções como... “Vamos vivendo uma bela vida/Achamos para tudo uma saída/ Céu azul, mar verde e belo/Em nosso submarino amarelo”.
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