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Vi escrito na lateral do ônibus da delegação francesa "Egalité, Liberté e Jules Rimet" quando aquele veículo azul deixava o Estádio de Frankfurt, duas horas depois do jogo de sábado. Achei a mensagem criativa, na proporção exata de uma busca patriótica sem ufanismo barato. No ônibus brasileiro, a mensagem era "Vehicle monitored by 180 millions Brazilian hearts" ("Veículo monitorado por 180 milhões de corações brasileiros"). Não deixa de ser uma verdade, pois todo o brasileiro filho de nossa mãe gentil de fato monitora a nossa seleção. Porém, adianta monitorar se não podemos eleger presidente (da CBF), escolher um treinador e escalar um time?

Monitoramos, mas não temos nenhum direito, além de xingá-los no estádio e descer a lenha no boteco da esquina. Como é difícil perder para a prepotência e para a arrogância! Refiro-me não ao adversário, mas aos senhores dos anéis que estão no poder do futebol do Brasil. Será, por exemplo, que Zagallo, com aquela expressão sofrida, doentia, repetindo clichês supersticiosos passava alguma energia positiva ao grupo? Ou a sua depressão, os cuidados constantes com a sua saúde não mexiam negativamente com o emocional do grupo?

Será que o radicalismo, ora no esconde-esconde dos luxuosos castelos; ora no populismo escancarado ao público por 20 dinheiros foi bem planejado? Será que o conservadorismo do treinador, que pensa para falar, fala bonito, mas não diz nada com nada, mexe com a alma dos jogadores? E será que todos os jogadores têm alma? E se as têm, será, ainda, que se encolhem diante da "Marselhesa"?

Conversando com uma jornalista espanhola depois da eliminação, ela me contava do grau de amizade que existe entre vários jogadores de Brasil e França. Roberto Carlos é parceiro de noitadas de Makelele, que é "irmão" de Henry, que é "brother" de Ronaldinho, que é ligado a Ronaldo, que é amicíssimo de Zidane (o francês visitava Ronaldo todos os dias quando ele estava contundido)... E por aí vai.

Quando começou aquele oba-oba antes do jogo, abraços para todos os lados, discurso sobre racismo, pensei comigo: Não é jogo de Copa do Mundo, é um clube de amigos em partida beneficente. E foi. Só que os brasileiros ouviram o Hino Nacional como se fosse um pagode, enquanto os franceses expressavam amor pela "Marselhesa".

Para eles, acabou a brincadeira no cumprimento dos capitães: Cafu sorrindo, Zidane sério. Começava assim aquilo que seria o retrato do jogo. Os franceses espalhando os pires pela grama e os nossos, bons samaritanos, colaborando com o dízimo. Fair play? Não. Acentuada burrice.

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