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Na palma da mão: Irapitan Costa conhece como poucos a Vila | Ivonaldo Alexandre / Gazeta do Povo
Na palma da mão: Irapitan Costa conhece como poucos a Vila| Foto: Ivonaldo Alexandre / Gazeta do Povo

Na quarta-feira, sentado no sofá do sobrado ainda com cheiro de novo no Bacacheri, Irapitan Costa dedicou alguns minutos da última semana de férias a manter uma rotina de trabalho dos últimos 24 anos. No verso de uma lauda de jornal, anotou escalações e detalhes como gol, cartões e substituições da vitória do Paraná por 2 a 1 sobre o Toledo, pelo Campeonato Paranaense. Assim que acabou o jogo, a ficha foi guardada na pasta de 2014. Uma ficha que é um marco na carreira do jornalista de 47 anos.

Esta semana, quando voltar ao trabalho na Tribuna do Paraná e começar na 98 FM, veículos do GRPCOM, não será mais o setorista do Paraná. Assumirá a cobertura do Coritiba. É o fim da trajetória do repórter que por mais tempo cobriu o Tricolor. De todos os campeonatos da história paranista, só não esteve no dia a dia do clube no primeiro, o Paranaense de 1990. Estreou na seletiva para a Série C, a serviço da extinta Rádio Independência. Logo passou a atuar também no jornal O Estado do Paraná, em uma dobradinha microfone-caneta que o acompanharia dali por diante. Depois da Independência, na Clube, na Capital Play e na Transamérica; além do Estadinho, na Tribuna. Longevidade que fez dele referência na cobertura do Paraná para a torcida, dirigentes, treinadores, jogadores e toda a imprensa.

Quem teve a ideia de te colocar para cobrir o Paraná?

Quando comecei, minha ideia era ser plantão. Era daqueles que ligava um rádio no Rio, outro em São Paulo e ficava fazendo tabela de campeonato quando não tinha essa facilidade de internet. Aí o Fernando César falou que eu tinha potencial para ser repórter e ele e o Josias Lacour decidiram que eu deveria ser o setorista do Paraná.

Imaginava passar tanto tempo no mesmo clube?

Era uma porta que se abria. O Paraná foi evoluindo, ganhando títulos e você começa a ver o lado bom de cobrir um time vencedor. Fui muito feliz de pegar uma série de treinadores que me deram todo o embasamento. Terminava o treino, ficava duas horas conversando com o Rubens Minelli. Na sequência veio o Otacílio Gonçalves, meu grande professor em termos de conduta e forma de agir.

Como foi se moldando à necessidade de informar o público e manter um bom trânsito dentro do clube?

Não é um aspecto muito fácil ter a confiança do leitor e manter com as fontes uma relação boa. Ninguém gosta muito de crítica. Então mesmo há tanto tempo no clube, você está sempre pisando em ovos. Vai da forma como constrói o profissional. Tem o repórter que é polêmico, o que é mais investigativo e o de filtrar o que percebe no ar. Me coloco mais como esse. Se estou certo ou errado, o público vai decidir.

Por que o Paraná dava tão certo naquele tempo?

Os adversários locais viviam um momento de baixa terrível e o Paraná conseguiu caminhar com as próprias pernas em uma realidade diferente, sem o dinheiro da tevê ter tanta influência. Quando veio o grosso do dinheiro da tevê, quebrou as pernas do Paraná. Tinha dinheiro e estrutura, mas não se preparou para a modernidade.

O grande erro foi não entrar no Clube dos 13?

Foi. Vendia-se a imagem de que o Clube dos 13 tinha os seus dias contados e um novo grupo surgiria, capitaneado por Vitória e Atlético, e o Paraná acreditou nessa situação. Ao acreditar, ficou com o pires na mão.

As duas décadas e meia de Paraná permitiram a Irapitan conhecer profundamente o clube e ter um poder espontâneo. Suas reportagens ganharam um peso maior não só entre os torcedores, mas também entre os dirigentes. Tanto que, em dois momentos, foi convidado para passar ao outro lado do balcão. Recusou a primeira, balançou na segunda. Preferiu seguir como jornalista e reencontrar personagens que passaram pela Vila Capanema em momentos diferentes.

Você cobriu o Ricardinho subindo como jogador e na estreia de técnico. Como foi fazer essa conta?

Tô ficando velho, né? Sempre tive um relacionamento muito legal com o Ricardinho. Ao saber que eu estava saindo da Transamérica, ele foi o primeiro a me ligar. São coisas que marcam. Nossa relação sempre foi o mais profissional possível mesmo tendo amizade. Ele pegou o time em um momento crítico, sem calendário, conquistou a Segunda Divisão do Estadual e fez um bom Brasileiro. Deveria ter continuado, ao invés de ter aquele rompante.

Recebeu algum convite para trabalhar no clube?

Para ser conselheiro e declinei. Se eu virasse conselheiro, seria omisso por não ir na reunião para não saber certas coisas ou exporia intimidades do clube que talvez não merecessem ser expostas. Depois houve uma discussão para me usar no departamento de futebol. Houve uma sondagem e eu disse que precisava ver se valia a pena.

Esse convite te balançou?

Balançou. Ser gerente de futebol de Série B ou A tem uma questão financeira muito interessante. Seria uma mudança completa de vida, abrir mão de todo um histórico.

Em duas décadas e meia de Paraná, Irapitan rodou o país. Do Norte, esteve no Pará e no Tocantins. Do Nordeste, faltou o Maranhão, que conheceria este ano com a chegada do Sampaio Corrêa à Série B. Dos outros estados, esteve em pelo menos uma cidade. Também foi atrás do Tricolor no exterior. Não para a Libertadores, culpa das férias, mas na exótica excursão à Costa Rica, nos anos 90.

Uma fonte de ótimas histórias. Como a convivência com jogadores de futebol e colegas de imprensa – alguns tão festeiros quanto os boleiros. Dois perfis que foram mudando com o passar do tempo, graças a uma guinada política – e religiosamente – correta dos jogadores e à entrada maciça das mulheres no jornalismo esportivo.

Qual a pior viagem?

A primeira, para Bandeirantes. Fomos de ônibus a Londrina e pegamos outro para Bandeirantes. Era um daqueles "cata Jeca". Entrou um pessoal que tinha saído da quermesse com galinha na mão. Tinha caído uma chuva desgraçada e aquilo virou um barreiro. Eu fiquei lá no cantinho, fingindo que estava dormindo.

E para fora do país?

Teve a viagem para a Costa Rica. Não tinha assessor de imprensa na época. Filmei o jogo com uma camerazinha de mão. O Josias e o Maneco [Manoel Fernandes] tiveram de emprestar o telefone de uma casa vizinha para transmitir o jogo. Como passava o trem, pagaram um menino para ficar com uma vassoura embaixo do fio. O trem apitava e o piá levantava o fio, senão acabava a transmissão.

Quais outras boas histórias de viagem?

O Paraná tinha reservado um hotel na Costa Rica que era em cima de um barzão agitado. O Jonathan Zaze desceu, olhou aquilo e disse: "Aqui a delegação não fica". Já vi jogador em pré-temporada dar aquela escapada no porta-mala de um carro.

Quem gosta mais de festa: jogador ou jornalista?

Os dois. Mas hoje em dia mudou muito. Não tem mais o boleirão. Ou é atleta de Cristo ou faz bem escondidinho.

Do lado de cá também mudou. Hoje tem mulher cobrindo o Paraná, a Monique Vilela, da Banda B.

A conversa fica diferente. Não se fala mais tanta bandalheira como se falava nas viagens. Nesse modelo de viajar só repórter, você acaba tendo mais intimidade com o teu concorrente do que com os companheiros de equipe. Muda a questão da rivalidade.

O ano novo trouxe novos desafios. Mudança de clube e de emprego. Ele havia prometido a si mesmo que não choraria na despedida da Transamérica. Diante dos depoimentos dos colegas e de profissionais que passaram pelo clube, não conseguiu. As férias deram o tempo necessário para pensar no futuro. Uma nova emissora para trabalhar, um novo clube para cobrir. Mudança que permitirá seguir conciliando rádio e jornal, em um sistema de rodízio. No Coritiba este ano, na virada para 2015 Irapitan pode ir para o Atlético, voltar ao Paraná ou virar quarto repórter. Um recomeço para alguém que, perto dos 50 anos, garante ter pique para seguir muito tempo correndo atrás de notícia antes de subir para a cabine ou se acomodar no ar-condicionado da redação.

Quando vai escrever um livro sobre o Paraná?

Tenho uma ideia, mas não sei em que formato. Quem sabe se subir, 25 anos... Seria uma data interessante e marcante. Não sei se vou ter pique e tempo para fazer.

O que vai ser mais difícil: conviver com uma torcida diferente ou o teu companheiro que for fazer o Paraná aguentar os pedidos pela sua volta?

Até pela minha postura de nunca ter sido um cara de polêmica, de tentar criar um fato, não vejo muita resistência de outras torcidas. Sempre vai ter a comparação. No Coritiba, vou ter de buscar o meu caminho e vai ter comparação com o meu trabalho no Paraná. É inevitável.

E essa política de rodízio?

É um novo formato a que vou ter de me ambientar, buscar o meu espaço, me impor desde o primeiro momento. Querendo ou não, muito tempo no mesmo lugar te dá alguns vícios. Uma situação nova te impõe novos desafios.

E em casa, como foi recebida a mudança?

A minha filha já perguntou: "Não vou precisar torcer para o Coxa, né?". Já foi um baque sair da Transamérica depois de 12 anos. O nascimento dos meus dois filhos foi anunciado pela rádio, criam-se laços. Como os meus filhos me viram sempre trabalhando no Paraná, me associam a isso. Agora, é outra realidade. Eles que decidam.

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