Paulo Paixão é um veterano no futebol e em Copas do Mundo. Dedicou 44 dos 61 anos de vida à preparação física e está às portas do seu sétimo Mundial. O primeiro foi em 1990, com Carlos Alberto Parreira, na seleção dos Emirados Árabes Unidos. Os cinco seguintes, com a seleção brasileira. Foi tetra em 1994, vice em 1998, penta em 2002 e voltou para casa nas quartas de final em 2006 e 2010. Bagagem que não o impede de ver como um estreante a primeira Copa dentro do Brasil. "É hora do friozinho na barriga. Não só frio. Vai dar dor de barriga", brinca Paixão, desde abril preparador físico também do Coritiba.
Paulo Paixão será o primeiro a pôr a mão na massa na Granja Comary, sede da seleção a partir do dia 26 deste mês. Será a partir do trabalho dele que Luiz Felipe Scolari receberá, nas mesmas condições físicas, os 23 jogadores para a corrida pelo hexacampeonato.
A definição dos convocados tirou um peso dos ombros da comissão técnica?
Não tira nada, não. Agora que o peso vem [risos]! Ainda mais com uma Copa no seu país. Não tem outro resultado que não seja ganhar. É diferente de dizer que é favorito. Agora é hora de acertar todos os detalhes, intensificar o contato com os convocados. Se até então era a cada oito, dez dias, agora é semanalmente. É hora do friozinho na barriga. Não só frio. Vai dar dor de barriga.
A primeira parte do trabalho em Teresópolis será mais de preparação física?
O tempo é muito curto. Combinaremos trabalhos físicos e técnicos para ganhar tempo. Eu não preciso parar um dia de trabalho técnico para fazer um de velocidade. Podemos combinar um treino de chute, cruzamento e deslocamento com um trabalho de velocidade.
Haverá muito desnível físico entre os jogadores na apresentação?
Sempre há. Mas se o atleta estiver bem equilibrado muscularmente, a probabilidade de lesão é menor. Vamos fazer os testes para detectar se há desequilíbrio entre um feixe muscular e outro. Ver o nível de força e, a partir daí, potencializar o trabalho em cima dessa musculatura. Tem dado certo, não tem por que trocar o nosso método.
O Neymar deve se apresentar após dois meses sem jogar. É melhor ou pior para a seleção?
É uma questão perigosa afirmar que o Neymar não vai para o último jogo da temporada, contra o Atlético de Madrid. A partir de amanhã ele inicia um trabalho no campo combinado com a musculação e a nossa expectativa é de que participe do jogo no dia 18. Não acontecendo, nenhum tipo de problema. É melhor ele chegar assim, de inatividade, do que desgastado? Lógico. Mas melhor seria se estivesse jogando para a coordenação tática estar apurada. Não vai ser o caso, mas também não é problema. O Neymar é um fominha, para tirá-lo de treino é difícil. Isso ajuda, pois a gente sabe que pode elevar o nível de atividade à exaustão que tudo será absorvido.
O Fred aguenta sete jogos em 30 dias?
O atleta que está no Brasil não é problema para a seleção. Aqui estão os melhores profissionais de medicina e treinamento esportivo, tanto que quando os jogadores se machucam lá fora, vêm para o Brasil se recuperar. Ele passará a ser uma preocupação se vier a acontecer algum problema extra ou em cima da hora.
A combinação entre clima e condicionamento físico proporcionará muitas zebras na Copa?
Em nenhum lugar a temperatura estará no ápice. Exceto onde é frio, o que ajuda. Então o que faz a diferença é a logística. O Brasil tem um jogo às 13 horas em Belo Horizonte [nas oitavas de final, caso passe em primeiro no Grupo A]. No nosso plano, já botamos três dias para os jogadores acordarem às 10 horas, fazerem um lanche almoço 10h30 e irem para o campo. Acabou o jogo, vai o mais rápido possível para a outra cidade e programa atividade para o dia seguinte à tarde. Volta a fazer esforço só 24 horas depois. Esse é o pulo do gato. Tem equipe que não viaja para o local, treina na manhã seguinte e aí vem o cansaço.
Qual seria sua reação se, dois anos atrás, alguém te dissesse que o senhor trabalharia na Copa do Mundo no Brasil, na seleção brasileira, com o Felipão de técnico?
Soltaria foguete, né?
Mas o Felipão não tinha encerrado a conta de seleção brasileira?
Ele não encerra uma conta assim, somente deixa a direção à vontade para qualquer decisão. Hoje o Felipão tem o apelo popular por ser um cara sincero, bonachão, que não modifica o pensamento do coração. Ele fala com o coração. O povo entende isso. Até os catedráticos entendem. Ele conquista as pessoas por isso.
O que mudou no Felipão de 2002 para o de 2014?
Está mais seguro. Tanto que na escolha dos convocados não teve dúvida. Na cabeça dele sempre estava lá "Henrique! Henrique! Henrique!". E ele escolheu o Henrique. A gente casa com a pessoa que a gente conhece e tem confiança, não com aquela que alguém te falou para casar.
Dê sua opinião
O que você achou da coluna de hoje? Deixe seu comentário e participe do debate.
Deixe sua opinião