A ainda nebulosa relação entre Paraná, L.A. Sports e Léo Rabelo presta um ótimo serviço a quem acompanha o futebol. Desnuda mais uma atividade dos empresários da bola, a de lobista. Na essência, não há diferença entre o funcionário de uma empreiteira pagar a pensão do filho "extra-oficial" do presidente do Senado e um empresário dar presentes a cartolas ou pagar a campanha, bichos e gorjetas do presidente de um clube. Nos dois casos, quem recebe desfruta de vantagem imediata. E quem paga põe a mão no bolso sonhando em conseguir algum benefício lá na frente.
O Paraná tornou-se um campo fértil para esse tipo de ação por ser um clube que nunca teve vergonha de pedir ajuda a empresários para formar suas equipes. Talvez seu presidente não estivesse preparado para lidar com essa relação em um ano em que o Tricolor tornou-se um time especial para tal atuação. Tudo graças à classificação pela Libertadores, ensaiada em 2005, garantida em 2006. Além de pôr o clube na vitrine, a vaga deu carimbo de aprovado à política de contratação de jogadores em parceria.
Imagine a oportunidade que a L.A., empresa parceira do Paraná há alguns anos, vislumbrou com a participação no torneio. Ou como os olhos de Léo Rabelo, raposa velha do mundo da bola, brilharam com a ascensão de um clube receptivo aos empresários.
O que Miranda talvez não contasse era que seus parceiros decidiriam cobrar a conta do lobby ao mesmo tempo. Na disputa para decidir o futuro de Thiago Neves e tirar um bom dinheiro com isso , os dois lados se apressaram em reivindicar seus direitos adquiridos, seja por contrato, seja com operações "não contabilizadas".
Desde que decidiu se defender publicamente das acusações, na segunda-feira, Miranda tem repetido que não pegou dinheiro do clubes. Por enquanto, ninguém pode dizer o contrário. Por mais que muitos insinuem que o dirigente lesou o clube, ninguém apareceu com provas reais de desvio algum.
Tudo seria mais fácil se Miranda tivesse embolsado dinheiro do clube. As provas seriam mostradas, o presidente, crucificado e não faltaria gente disposta a posar como honesta. Mas tudo que se tem é um lobby e a maneira como a consciência de Miranda guiou sua conduta com os negócios de quem lhe ajudou na hora do aperto. Isso, só o dirigente pode dizer. Talvez nós nunca saibamos a verdade completa.
Não se pode criar a falsa impressão de que casos como esse ocorrem apenas no Paraná. A promíscua relação entre clubes e empresários é generalizada. As exceções, se existem, são raras. Infelizmente, a diferença está no grau em que isso acontece e na habilidade dos cartolas em esconder suas negociatas.
Para evitar que a coluna vire piada pronta... Apesar do sobrenome, não tenho parentesco com os donos da empreiteira amiga do senador. Ou, como disse a vários amigos quando o escândalo veio à tona, sou Mendes Júnior, mas não paguei a pensão de ninguém.
* O colunista Airton Cordeiro está em férias.
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