No dia 9 de abril de 2003, oficiais norte-americanos "laçaram" e derrubaram a enorme estátua de Saddam Hussein posicionada no centro da praça Al-Firdos, em Bagdá. É uma das imagens mais fortes da operação militar no Iraque, mas que nem de longe significou o fim dos problemas no país. Proble­­mas que foram além da prisão, julgamento e execução de Sad­­dam e que persistem até hoje, mesmo sem mais nenhum oficial dos Estados Unidos em território iraquiano.

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Faço essa introdução para dimensionar o pedido de licença médica de Ricardo Teixeira. Um subterfúgio para quem não quer assumir a derrota que significaria renunciar à presidência da CBF, embora o efeito da licença seja o mesmo. O afastamento de Teixeira é como a derrubada da estátua de Saddam: uma imagem forte, simbólica, mas que não chega nem perto de resolver os problemas, no caso, do futebol brasileiro.

Teixeira trabalhou exaustivamente para construir uma estrutura que sempre esteve a seu serviço. Para acalmar as federações estaduais, insatisfeitas com o enxugamento do Brasileirão no fim dos anos 80, criou a Copa do Brasil, democrática e politiqueira na mesma medida. Quando foi preciso agradar aos clubes, permitiu as rentáveis copas regionais. As federações reclamaram de novo? Deu mais corda aos estaduais. Usou horários de jogos da seleção e dos campeonatos nacionais para afagar ou atacar parceiros comerciais. Com a Copa nas mãos, colou no Palácio do Planalto para soltar a rédea curtíssima com que foi tratado em boa parte do governo FHC e mostrou aos presidentes de federação como usar o Mundial para am­­pliar seus mandatos – Hélio Cury foi um dos que aprenderam bem a lição.

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O resultado é que Teixeira sai, mas o sistema que ele deixa montado é tão ou mais perverso que o seu criador. José Maria Marin, o presidente da vez, tem um histórico na política e no futebol de matar de desgosto. Se não for ele, será um Sarney o dono do poder no futebol brasileiro. Não há nenhuma luz nem nas federações, satisfeitas com seus pequenos feudos, nem nos clubes, que se mantiveram quietos durante toda a movimentação em torno da saída do dirigente.

Em um primeiro momento, não há esperança de melhora real do futebol brasileiro pela simples saída de Ricardo Teixeira. A limpeza na CBF precisa atingir os vice-presidentes, os diretores de departamento e o sistema eleitoral da entidade. Uma limpeza que precisa se estender às federações e à maneira como a maioria dos clubes e as suas competições são geridos. O governo federal, que teve peso determinante no enfraquecimento de Teixeira, tem o dever de completar o serviço, induzir essa reforma. Caso contrário, o que teremos será apenas uma bela imagem para a história, mas que não desencadeou uma reforma de verdade.