Sujeito casado há 20 anos, incapaz de enxergar as virtudes da sua mulher. Prefere olhar o quintal do vizinho e sonhar com a vida dele. É essa a imagem que me vem à cabeça ao olhar para a Copa-2010. Quem tem ginga quer ser europeu; quem é europeu quer ginga.
O Brasil simboliza o primeiro grupo. Se for campeão, será com um time de guerreiros, não de artistas. O melhor goleiro do mundo é brasileiro, a defesa é confiável e nossa melhor arma é o contra-ataque. Somos temidos pela eficiência do jogo, não pela fantasia. Viramos uma Alemanha tropical.
Os africanos rezam a mesma prancheta. Se aproveitarem sua melhor chance de chegar a uma semifinal, não será com o "futebol irresponsável" que os estigmatizou. Gana e Camarões são as apostas mais seguras do continente porque aliaram o talento natural à disciplina europeia.
Pois o "joga bonito" ahora habla español. Busquets, Xavi, Iniesta e David Silva trocam passes como brasileiros. Graças a eles, a Fúria estabanada e amarelona está morta e enterrada, deu lugar a uma Espanha que aprendeu a esperar, a ganhar e a como se tornar a oitava campeã mundial.
A Alemanha também injetou ginga no seu jogo robótico. Cortesia de Cacau, Boateng, Ozil, jogadores que deram novas cores e raças à mais multicultural seleção alemã de todos os tempos. Se, inexperiente, a equipe não será capaz de colocar a quarta estrela na mais bela camisa do Mundial sul-africano, ao menos mostrará a nova cara do país.
Atual campeã, a Itália olha desconfiada para a defesa e o meio de campo dos envelhecidos e minguantes Buffon, Cannavaro e Camoranesi , mas com surpreendente esperança para um ataque, Gilardino e Di Natale, que fez 45 gols na última Série A.
A exceção é a Argentina. Em 86, Bilardo foi campeão ao montar um time que suasse para Maradona brilhar. Agora, Maradona repete a dose, pois tem em Messi seu El Diez. Sem segredo, sem invenção, e com uma enorme cara de que pode nos fazer passar os próximos quatro anos cobiçando a mulher do próximo.
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Leonardo Mendes Júnior é editor-chefe da revista ESPN
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