Certas situações são tão absurdas que têm a capacidade de incomodar mesmo sem causar surpresa alguma. Não me refiro ao moroso avanço das obras da Copa em Curitiba, para o qual a definição também cabe. Mas a duas manifestações que indicam o óbvio: passada a comoção nacional pela pancadaria na Arena Joinville, a discussão sobre a violência nos estádios foi chutada para o limbo.
Primeiro foi o ex-vereador Julião da Caveira, presidente da Fanáticos, que tratou como heróis de guerra os brigões libertados pela Justiça. Falou em hombridade, caráter, ideologia de torcida. Faltou apenas prometer uma medalha de condecoração para cada um por ato de bravura e aposentadoria especial de torcedor organizado. O discurso é exatamente o mesmo do pessoal da Força Jovem, do Vasco.
Depois foi Reimackler, presidente da Império, que se queixou de a organizada não poder entrar com seu material nos Atletibas com mando do Atlético, restrição imposta pela polícia. Reimackler, preso por ser um dos comandantes da invasão ao Couto em 2009, cunhou uma das fortes candidatas a frase do ano: "A torcida deles que apronta e nós é que somos punidos?"
O que Reimackler não vê ou parece não querer ver é que a punição de hoje é ato contínuo do momento em que a sua organizada aprontou. Após o 6 de dezembro de 2009, houve a mesma comoção nacional, seguida de uma série de promessas e projetos para conter a violência nos estádios. O ano todo de 2013 provou que pouco foi feito e esse pouco fracassou. O 8 de dezembro só veio jogar isso na nossa cara, portanto natural que a reação imediata seja apertar o nó.
O problema todo está no que (não) foi feito entre estes dois dezembros. Não houve um plano sério de segurança nos estádios. Nem uma investigação a fundo nas atividades e na dinâmica das organizadas, que permitiria facilmente indicar: 1) A origem de muitas brigas, que então poderiam ter sido evitadas; 2) Como e por que uma violência que está claramente presente na sociedade é revertida para o futebol, uma autêntica terra sem lei.
O ano já começou com briga entre torcidas na Copa do Nordeste. Em meio à beatificação dos brigões, Julião fez alertas válidos, que deveriam envergonhar as autoridades: "No dia do jogo temos que lidar com soldados despreparados e ignorantes". Uma verdade incontestável. Basta lembrar, por exemplo, a fileira de policiais posicionada à frente da arquibancada do Couto Pereira, quando o Botafogo fez o gol de honra no jogo que poderia deixar o Coritiba na porta da Série B. Todos que estavam naquele setor ficaram sob a mira das balas de borracha, como se todos fossem bandidos. Um serviço de inteligência permitiria à polícia saber exatamente onde estava o problema e preveni-lo, não reprimi-lo.
Enquanto isso, nem notícia de avanços no plano de medidas para reprimir a violência no futebol. Nove pontos anunciados no calor da briga de Joinville pelos ministérios do Esporte e da Justiça, que, como é recorrente no Brasil, causaram muito barulho para logo depois não sair do lugar. Até a próxima tragédia.
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