Há algumas semanas, quando voltou à tona a possibilidade de o Coritiba mudar-se para o Pinheirão, fiquei surpreso com a grande aceitação da ideia pela torcida. Existe, claro, uma rejeição enorme, motivada principalmente pelo apego histórico ao Couto Pereira, mas que não se restringe apenas a isso. Agora houve muito mais vozes a favor do que, por exemplo, em 2007, quando Giovani Gionédis cogitou projeto similar. O que mudou nesses quatro anos? Mudou a percepção que a torcida tem da direção do clube.
Em abril de 2007, quando veio a público a ideia de o Coritiba assumir o terreno do Pinheirão, o clube estava há três anos sem vencer o Estadual e vinha de um rebaixamento e um não acesso no Brasileiro. A incapacidade de montar um bom time era mais forte do que tudo que tivesse sido feito de positivo anteriormente (dois títulos estaduais, vaga na Libertadores, redução da dívida). O recado da arquibancada era claro: não nos amolem com história de estádio, queremos um time.
Hoje o cenário é diferente. O Coritiba vive a melhor temporada em anos dentro de campo, o momento é de otimismo com o futuro. E, até agora, não há um grande deslize dessa diretoria que sugira ao torcedor que é bom desconfiar antes de apoiar um passo tão delicado.
Com o ambiente a favor, uma saída do Couto torna-se mais palatável. Particularmente, considero mais adequado esgotar todas as possibilidades no atual terreno do Alto da Glória antes de se abraçar a uma granada sem pino como é o Pinheirão.
A reportagem do JdeM (desculpe, mas não posso dividir a tradução da sigla com os leitores) André Pugliesi na Gazeta do Povo de ontem mostra que o Coritiba tem tomado os cuidados básicos para entrar no negócio: a dívida acrescentada ao valor total da venda, a entrega do Couto Pereira somente quando o novo estádio estiver pronto, a preocupação em não comprometer receitas futuras.
Na teoria, perfeito. Para virar prática, precisa de um investidor. Planos maravilhosos de estádio foram anunciados Brasil afora nos últimos anos, sempre com a promessa de que um investidor bancaria tudo. Na maioria dos casos, o investidor simplesmente não existia. Onde ele existe, em regra chegou com menos força, exigindo o socorro público (caso específico de alguns estádios da Copa).
Como o Coritiba não confirma plano algum no Pinheirão, isenta-se da obrigação de apresentar qualquer tipo de garantia. No dia em que vier a público para falar de estádio, certamente será com o pacote pronto. Resultado do esforço de um estafe reduzido, mas eficiente tanto na área de marketing quanto na prospecção de novos negócios, com experiência de mercado (não só no futebol), que trabalha silenciosamente para concretizar diversos projetos do clube. Craques anônimos, que são os verdadeiros responsáveis por a hipótese de uma mudança do Coritiba para o Pinheirão não despertar a rejeição unânime da torcida.
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