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Zé Love fez três jogos pelo Coritiba e, merecidamente, caiu nas graças da torcida. Mesmo com o desconto do baixo nível de exigência do Estadual, fez gol, deu bons passes, criou jogadas de gol. Merece o elogio por isso, não pelo que tem sido o principal argumento dado pela torcida alviverde: raça.

Já escrevi sobre isso um tempo atrás, mas como o assunto sempre está presente na boca da galera, vale bater de novo na tecla. Usar raça como única ou principal régua para medir o desempenho de um jogador é um erro brutal, uma simplificação injusta. Se um time está bem, é porque teve raça. Se o time está mal, falta raça.

Rivaldo, por exemplo, não atende ao estereótipo do jogador raçudo. Felipe Mello é a encarnação do jogador raçudo. "Sem raça", Rivaldo foi determinante para o Brasil decidir uma Copa e ganhar outra. "Com raça", Felipe Mello desencadeou o colapso da seleção brasileira em um Mundial.

No fundo, parece muito mais uma projeção de quem está na arquibancada. Com raras exceções, quem não vira jogador de futebol profissional é porque não levava jeito para a coisa. E não me refiro à técnica, mas à resistência necessária para escalar uma pirâmide em que a base vive de contratos curtos em times inexpressivos que nem sempre pagam – e depois encarar contratos longos em grandes times que também não pagam. Esses boleiros frustrados vão para a arquibancada e passam a enxergar raça (em excesso ou em falta) em tudo, pois é tudo o que eles teriam a oferecer se estivessem em campo.

Zé Love será útil ao Coritiba sempre que usar sua técnica para fazer gols, dar passes e abrir espaços. A raça é um acessório que permite a ele potencializar essas qualidades, não o contrário. Um jogador com muita raça e pouca capacidade técnica só atrapalha. Como é raçudo, ele está sempre participando do jogo. Como é ruim, sempre está metendo o time em enrascadas. Um ciclo interminável que inevitavelmente leva à derrota. De um perna de pau o mínimo que se espera é a omissão. Não ajuda, mas também não atrapalha.

Sem currículo

Milton Mendes está entrando no terceiro mês à frente do Paraná e não teve dia sem contestação ao seu trabalho. É o preço de ser um técnico sem currículo. Diante da profundidade do bolso tricolor, seria quase impossível extrair mais de um elenco reformulado, com algumas carências e salários atrasados. A diferença é que um treinador com alguma história para contar teria mais complacência dos torcedores e da imprensa. Sempre haveria a esperança de repetir determinado trabalho. No caso de Milton, não há de onde tirar essa esperança. Por isso a tolerância com ele é tão baixa. O problema é que, muitas vezes, até os jogadores querem um currículo para admirar.

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