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Cristóvão Borges é uma das melhores cabeças do futebol brasileiro. Não apenas pelos bons times que monta, mas pelas ótimas ideias que tem. Demonstração disso foi dada semana passada, em entrevista ao jornal Extra, do Rio. Ao falar da meia dúzia de perguntas que responde por coletiva sobre Fred, lamentou o nível das questões levantadas por nós, jornalistas: "Metem o pau, dizem que estamos atrasados, mas a imprensa também precisa se preparar. Se a discussão não mudar, a gente vai continuar tomando de sete. No futebol, discute-se pouco as coisas essenciais. As não relevantes ocupam mais espaço."

O golpe de Cristóvão é certeiro. No atrasado navio do futebol brasileiro, a imprensa ocupa várias e confortáveis cabines. Em geral, temos pouco interesse por entender o jogo, ver o que está sendo feito pelo mundo e pelas diversas atividades que se cruzam com o futebol atual. Gestão, marketing, administração, medicina, psicologia, direito… Tudo isso entra em campo hoje e, para muitos de nós, segue sendo familiar como um marciano. O reflexo prático é o simplismo da análise.

Até o jogo com o Atlético-MG, Doriva estava errado porque escalava o time no 4-3-3. Contra o Botafogo, acertou porque mudou para o 4-4-2. Embalar os times em uma combinação numérica é tratar o futebol como pebolim. A diferença óbvia está em como os dez jogadores de linha — ou os 11, como ensinou Neuer na Copa — se distribuem. O Atlético poderia ocupar o meio de campo satisfatoriamente tendo dois pontas se os pontas voltassem para marcar sem a bola e, com ela no pé, mantivessem a posse. Não acontecia uma coisa nem outra. A transformação não veio porque o time perdeu um atacante e ganhou um meia, mas porque esse meia, além de ocupar melhor o espaço, ajudou o Atlético a ter a bola mais tempo no pé. Se a bola está no seu pé, o adversário não ataca.

Outro simplismo de análise é o Coritiba do 4-6-0 de Roth. A ausência de atacante fixo não torna o time necessariamente defensivo, sim a distribuição de quem está em campo. Roth poderia ter um Coritiba forte ofensivamente mesmo sem atacantes se tivesse um volante que soubesse tratar a bola com alguma intimidade, maior qualidade geral no setor e não fizesse de Alex um falso 9. Os melhores momentos de Alex foram quando ele correu para perto dos volantes e armou o jogo. O campo útil aumenta. Com a visão e capacidade técnica que tem, Alex consegue deixar seus colegas em condição de gol com lançamentos. Sobram pelo mundo exemplos de jogadores que recuaram e se tornaram mais decisivos.

A lesão de Alex deixa essa discussão congelada. Mesmo se ele estivesse apto, não debateríamos as possibilidades da formação. Haveria dois blocos estanques: os que acham que o resultado fez valer a pena abrir mão de um atacante e os que querem um time com mais jogadores ofensivos. Um futebol de pebolim que, ainda custamos a entender, não entra em campo.

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