O Coritiba faz uma campanha de manual de treinador. Venceu as duas partidas em casa e empatou as duas fora. É líder do Brasileirão em quatro rodadas mais por essa eficiência do que pelo futebol. Teve momentos críticos contra Bahia, Goiás e Fluminense. Mas não desistiu de buscar as vitórias sobre Galo e Flu nem mesmo quando o normal era se conformar com o empate. E ontem, especificamente, venceu porque teve o passe e o chute de Alex, o pé esquerdo mais preciso do futebol brasileiro.
Liderar o Brasileirão após quatro rodadas não quer dizer muito em termos de classificação final. Basta lembrar que teve time na ponta na largada do campeonato que fechou o ano rebaixado. Mas dá uma confiança que, se bem canalizada, aproximará o Coritiba da ambiciosa meta de jogar a Libertadores do ano que vem. Ainda um sonho, porém, já mais real do que antes do BR13 começar.
A dura vida do 9
As constantes transformações táticas do futebol mudaram a forma de analisar determinadas posições. O goleiro precisa ter reposição qualificada. Laterais são avaliados pela capacidade de atacar, marcar e criar. O camisa 10 clássico sumiu, foi engolido por um meia que cria, encosta nos atacantes e recompõe sem a bola.
O camisa 9 entra nesse bolo. "Apenas" fazer gol deixou de ser suficiente. Jogar fora da área, trocar de posição com o meia, cair pelos lados do campos... Tudo isso ganhou um peso absurdo. Ser um especialista em por a bola na rede e nada mais é quase um crime.
A discussão sobre o papel do centroavante no futebol moderno cobro preço módico pela cessão desse título para teses acadêmicas está em todos os lugares. Na seleção, Neymar foi adaptado na função por Mano. Felipão fincou a bandeira do 9 clássico, encarnado por Fred. No Corinthians, ainda há quem peça Pato ao lado de Emerson em detrimento do especialista Guerrero. No Coritiba, Deivid joga muito mais fora do que dentro da área.
Obviamente, melhor um centroavante capaz de fazer gols e exercer função tática com a mesma desenvoltura. Esse produto, porém, está em falta. É quase obrigatório escolher por uma qualidade.
Particularmente, prefiro um especialista. O 9 pode ser perdoado se ele "só" souber fazer gol. Não há função no futebol que mereça mais crédito do que a capacidade de botar a bola na rede. Mesmo que, em várias situações, os times fiquem reféns de jogadores que, se não fizerem gol, serão os piores em campo.
Vejam Marcão. Sempre vale pensar duas vezes antes de colocar o atacante atleticano em campo, diante da sua dificuldade em tratar bem a bola. A regra é essa. Mas a exceção às vezes aparece. Quarta-feira foi assim. Bastou uma bola para Marcão decidir a favor do Atlético. Sem bônus tático nem dupla função. Apenas um toque sutil para decidir o jogo. O futebol não precisa de mais do que isso.