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No primeiro ano era o Vasco. O time que havia saído das garras de Eurico Miranda, descido à Série B e voltado nas mãos do maior ídolo da sua história. Era o carimbo necessário de que ex-jogador pode, sim, administrar com sucesso um grande clube.

No segundo ano era o Palmeiras. O time que não vencia um título importante havia mais de uma década. A primeira conquista em anos sem ter um parceiro milionário no apoio. Agora, no terceiro ano, é o Flamengo. O clube mais popular do país. O clube que caiu nas mãos de um ex-executivo do BNDES, com o discurso de sanar a impagável dívida rubro-negra.

É o terceiro ano seguido que o futebol paranaense chega à final da Copa do Brasil. Terceiro ano seguido em que do outro lado estará um gigante do futebol brasileiro, o que leva a um ambiente de mobilização a favor do grande em busca da redenção. Seja pela conveniência de agradar a uma audiência maior. Seja pelo sentimento de que alguns clubes são mais instituições do futebol brasileiro do que outros.

Uma visão claramente distorcida. O futebol brasileiro cresceu em torno do eixo Rio-São Paulo. As duas expansões experimentadas só trouxeram coisas boas. Primeiro para Minas, na virada dos anos 60 para os 70. Depois para o Rio Grande do Sul, entre 70 e 80.

O Paraná já ensaiou algumas vezes sua entrada no clube dos grandes. Com a semifinal do Atlético em 1983 e o título do Coritiba, em 1985. Com o título e o vice nacional do Atlético em 2001 e 2004. Com as seguidas Libertadores nos anos 2000, tendo como ponto alto o vice-campeonato rubro-negro em 2005. Sempre faltou força para meter o pé na porta e entrar na sala ou para ficar lá dentro.

O futebol é instável demais para ser possível precisar a consequência do título da Copa do Brasil para o Atlético e o estado. O Coritiba chegou a duas finais seguidas com extrema competência, resgatou um de seus maiores ídolos para dar o passo que faltava e, neste ano, conseguiu regredir quando isso não ­parecia mais ser possível.

O Atlético rompeu com a lógica da temporada brasileira. Fechou-se em si mesmo como se fosse um departamento do governo norte-coreano. E, independentemente do que acontecer até o fim do ano, já fez mais do que o próprio clube poderia imaginar. Abriu, com a pré-temporada de padrão europeu, a porta para o futuro do futebol brasileiro.

Portanto, se nas próximas três semanas você ler e ouvir o quanto um grande título para o Flamengo poderia ser benéfico para o futebol brasileiro, desconfie. Até porque o Flamengo não se emendou depois de ser campeão nacional em 2009. O Palmeiras terminou o ano do título da Copa do Brasil rebaixado, mesmo destino do Vasco dois anos depois de dar a volta olímpica no Couto Pereira.

O futebol brasileiro só cresceu quando ampliou seu eixo. Está nas mãos do Atlético – e do futebol paranaense – redesenhar essas fronteiras de ­maneira duradoura.

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