Quem acompanha a coluna sabe do meu apreço pelo Bom Senso FC. Algumas coisas só vão mudar no futebol com a ação direta dos jogadores. Por isso a importância do movimento para, por exemplo, romper a ilógica lógica financeira do futebol ou endireitar o calendário criminoso.
Há uma ausência na boa pauta do Bom Senso que me incomoda há algum tempo: torcidas organizadas. A relação entre jogadores e torcedores (no geral, não organizados) é próxima por natureza. São as duas pontas mais importantes do futebol. Quem faz o jogo dentro de campo e quem dá suporte, emocional e financeiro, fora dele. No caso das organizadas, a proximidade já se tornou perigosa há tempos. Jogador é apresentado no clube, mete boné da organizada. Faz gol, corre para o setor da organizada e faz o símbolo da facção. O time está em crise, elogia o apoio da organizada para cutucar o torcedor comum, quase sempre mais chato.
Nos últimos meses, os maus torcedores deram motivos de sobra para o futebol brasileiro ver que precisa se livrar deles. A briga entre atleticanos e vascaínos em Joinville mereceu uma nota tímida e asséptica do movimento. Como comparativo, o Bom Senso foi extremamente duro ao criticar o STJD e a CBF pelos desdobramentos do caso Heverton. Acertou a medida quanto ao tapetão; errou quanto à pancadaria.
Agora, guarda o silêncio diante a invasão covarde ao CT do Corinthians. Logo um clube que tem no seu elenco um dos principais líderes do movimento. Era de se esperar que o movimento encampasse a não entrada em campo do Corinthians contra a Ponte Preta. Seria uma oportunidade histórica de ampliar a pauta do movimento e marcar posição contra um dos maiores males do futebol atual. A única atitude enérgica contra organizadas após o sangrento 2013 foi tomada pelo Cruzeiro, numa decisão exclusiva da cartolagem.
Como contraponto, pode-se dizer que não dá para generalizar, que há uma minoria violenta dentro de uma maioria que vai ao estádio apenas para torcer e que é impossível identificar os maus torcedores. O argumento é frágil. Os brigões estão, invariavelmente, em todas as confusões envolvendo determinado time. Portanto, a identificação é mais simples na prática. Além disso, se a estrutura das organizadas permite que uma minoria se infiltre nelas para praticar atos violentos a tal ponto de se tornar invisível, é evidente que essa estrutura precisa ser revista.
Entendo que o Bom Senso é um movimento recente, que precisará de tempo para, efetivamente, transformar uma estrutura que funciona da mesma maneira a décadas e exatamente por isso está levando o futebol brasileiro para o fundo do poço, com disposição para cavar e descer um pouco mais. Porém da mesma maneira que houve um momento em que os jogadores disseram chega para o calendário e a baderna financeira, está na hora de fazer o mesmo em relação às organizadas. Como diz o mote do Bom Senso, é uma bandeira fundamental para quem joga, para quem torce, para quem apita, para quem transmite, para quem patrocina.
Dê sua opiniãoO que você achou da coluna de hoje? Deixe seu comentário e participe do debate.
Como a eleição de Trump afeta Lula, STF e parceria com a China
Polêmicas com Janja vão além do constrangimento e viram problema real para o governo
Cid Gomes vê “acúmulo de poder” no PT do Ceará e sinaliza racha com governador
Alexandre de Moraes cita a si mesmo 44 vezes em operação que mira Bolsonaro; assista ao Entrelinhas
Deixe sua opinião