No início do ano, o Coritiba anunciou festivamente a renovação de Marquinhos Santos por duas temporadas. Estabilidade rara no futebol nacional, menor apenas que a de Tite no Corinthians. Àquela altura, a aposta de longo prazo no treinador era o carimbo de que a nova administração do Coxa estava convicta no projeto encampado para se eleger um mês antes.
A fragilidade dessa convicção foi apontada por João Paulo Medina como o principal motivo da sua saída do clube, mês passado. Na visão de Medina, o pulso coxa-branca fraquejou ao ver a taça de campeão estadual escapar entre os dedos, com direito a um passeio do Operário no Couto Pereira. Assim – sempre segundo Medina –, o Coritiba não resistiu à primeira tentação do futebol brasileiro: mudar suas convicções diante do fracasso no Estadual. O que, na prática, manifestou-se na condenação de Vaná ao banco de reservas.
Agora o Coritiba está diante do segundo teste da sua convicção. Em quatro rodadas, o clube soma apenas três pontos no Brasileiro. Está na porta da zona de rebaixamento. Se o histórico do clube for mantido, os jogos fora de casa contra Fluminense e Internacional tratarão de deixá-lo entre os quatro últimos. Essa combinação – no ritmo habitual do futebol brasileiro – desemboca em demissão.
Ao dar um contrato de dois anos a Marquinhos, o Coritiba indicou a intenção de ir na contramão deste ritmo. O que significa, na prática, dar ao treinador respaldo mesmo em uma sequência de derrotas. Entender que se alguns erros no banco de reservas são exclusivos do técnico, outros resultam de falta de bons jogadores à disposição, algo que diz respeito total à diretoria. E passa por, nos momentos ruins, a diretoria estar fisicamente ao lado do técnico, dando a cara a bater junto com ele.
Após a final do Paranaense, Ernesto Pedroso foi para a coletiva com Marquinhos. Passou recibo de confiança irrestrita no treinador. Sábado, após a inesperada derrota para o Avaí, Marquinhos foi sozinho, o que pode ser apenas uma coincidência.
O momento no Coritiba é de olhar para as convicções inabaláveis seis meses atrás e ver o quanto ainda fazem sentido. Se fraquejar como fraquejou após a perda do Estadual, o Coxa precisará assumir que talvez tenha prometido aquilo que ainda não estava pronto para cumprir: um projeto de longo prazo, amparado pela confiança na construção do futuro, não apenas nos resultados da quarta e do domingo.
Se confia na construção gradual do futuro, o Coritiba não tem por que dar ouvidos a quem já pede a cabeça de Marquinhos. Se a atual diretoria coxa-branca é mais uma que vive apenas de resultados, como é regra no futebol brasileiro, está perdendo tempo com Marquinhos Santos como treinador.
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