A saída de Claudinei Oliveira do Paraná para o Atlético é daquelas situações que comprovam como o futebol vive com um pé na realidade e outro em um universo paralelo. Tese reforçada pela acusação de falta de ética que a diretoria paranista fez ao rival.
Imagine se você, leitor, no seu segmento profissional, recebe uma proposta de trabalho de uma empresa concorrente. Pela lógica que rege o mundo, você ouve a oferta, negocia, eventualmente comunica seu chefe ou não (a escolha é sua), toma uma decisão e, se for vantajoso, vai embora. Salvo algum desvio no caminho como levar informações estratégicas para o novo emprego , ninguém te acusa de falta de ética (frise-se, o Paraná não cobrou Claudinei por isso, embora não tenha gostado). Também ninguém cobra a sua nova empresa por não ter avisado a antiga que queria os seus trabalhos. Afinal de contas, isso daria aos patrões um controle pouco saudável das escolhas dos funcionários. O passo seguinte seria a cartelização e um pacto para não tirar profissional do vizinho, que inevitavelmente achata salário e prejudica o mercado.
Na lógica paralela dos dirigentes de futebol, é isso que deveria acontecer. Se um clube quer um profissional de outro, um presidente passa a mão no telefone, liga para o colega e trata no gabinete o destino do técnico ou do jogador. Parecem dois senhores de engenho negociando escravos. Ou, trazendo para a bola, dois cartolas tratando a venda de um jogador no tempo em que havia lei do passe. No fim, a mesma coisa.
Não estou defendendo a lei da selva. Tomar treinador de um rival com que você está disputando um título ou vaga para alguma competição é, sim, antiético. Como também é varrer o elenco de um único time como quem faz compras de mercado para passar dois meses em um abrigo antiaéreo. Ou oferecer casa, comida e emprego para a família de um garoto pobre da base, algo recorrente. Todas práticas condenáveis, que o mercado do futebol deveria regular.
Se os clubes querem inibir o avanço de rivais a seus profissionais, que se organizem e criem mecanismos para isso. Ideias que podem ser importadas do "mundo real". Empresas de médio e grande porte incluem cláusulas no contrato de executivos que os obriga a uma quarentena quando deixam o emprego por decisão própria. É uma maneira de impedir que eles levem planejamentos estratégicos e segredos industriais para o concorrente.
O técnico é uma peça estratégica dentro de um clube de futebol. É alguém que sabe de planos de contratação e investimentos do time. Aceitável impor essa quarentena em contrato, desde que acompanhada de respaldo e tolerância que, hoje, simplesmente inexistem futebol. E, claro, acompanhada do pagamento em dia dos salários, a enorme brecha que a maioria dos clubes brasileiros Paraná incluído deixa para perder profissionais.
Mesmo considerando que no mundo do futebol um clube tem direito de reclamar de falta de ética quando um rival lhe toma alguém, o dirigente que não consegue pagar salário em dia deveria ter o bom senso de não exercer esse direito.
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