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A eleição do Atlético será a primeira de um clube do estado com parte considerável do colégio eleitoral composta por torcedores organizados. Cerca de um terço dos 8 mil eleitores é filiado à Fanáticos (a maioria) ou à Ultras. Um contingente capaz de decidir a votação, ainda mais se for confirmado nas urnas o apoio em bloco da Faná­­ticos à CAP Gigante – Juliano Ro­­drigues, o vice da facção, inclusive faz parte da chapa para o Conselho Deliberativo. Diogo Fadel Braz e Yára Eisenbach dizem que não haverá voto em massa, pois a diretoria da TOF está com Petraglia, mas os associados, com eles.

A preocupação dos candidatos em reclamar para si o apoio mostra como este segmento ganhou peso. Não fosse assim, dificilmente Pe­­traglia, que sempre criticou duramente a Fanáticos (várias vezes com razão), teria se enfiado na sede da organizada para uma animada confraternização. Uma cena que, de tão surreal, parecia ter saído de um filme do finado Leslie Nielsen. Para resumir em uma palavra, as organizadas ganharam poder.

Um poder conquistado não à força, mas legitimamente. A associação ao clube é permitida a qualquer torcedor. Se a organizada tem capacidade de mobilização suficiente para convencer algumas centenas de integrantes a pagar uma mensalidade que ajuda a montar times mais fortes e manter as contas em dia, ela merece seu espaço na política do clube, merece ser ouvida. O voto de um torcedor organizado não vale menos que o de um torcedor comum. Mas também não pode valer mais. Nem justifica torcida organizada assumir status de partido da base aliada na composição de governos na política real.

Ao mesmo tempo em que me­­rece crédito pelo apoio nas ar­­quibancadas e pela disposição em pagar a mensalidade de sócio-torcedor, as organizadas também são responsáveis por promover e incentivar a violência (no caso atleticano, entre facções ligadas ao Rubro-Negro) e concorrem com o clube na venda de produtos. Todas as experiências de abertura excessiva às organizadas foram catastróficas. O Coritiba viveu essa experiência da pior forma possível e, depois, endureceu a relação. No Atlético é preciso estabelecer uma distância segura. Hoje, o máximo de proximidade prudente é prometer grandes contratações, títulos, investimento em infraestrutura, conforto e respeito ao torcedor – todos eles, organizados ou não. Ir além disso é como entregar ministérios ao PP e ao PTB.

Amanhã, talvez seja possível uma composição diferente. Ter maior participação na política do clube cria condições para as organizadas assumirem um papel de protagonista e até elegerem um presidente de dentro da própria facção. Com o preparo adequado, esse poder recém-adquirido pode dar início a uma revolução popular dentro do futebol brasileiro. Mas no cenário atual, em que duas torcidas do mesmo clube brigam entre si onde quer que estejam, é quase impossível acreditar que esse futuro algum dia chegue. E se ele chegar, não será dos melhores.

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