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Ricardinho tem muita coragem. Depois de uma tentativa (quase) frustrada de dirigir seu time do coração, como primeira experiência de treinador, volta agora para pegar novamente o Paraná Clube em situação difícil. Como se não fosse regra o clube se encontrar em situação difícil nesses últimos anos.

Da primeira vez, há dois anos, achou que estava pegando um time de primeira linha do futebol brasileiro e estabeleceu algumas exigências que estavam muito além do que o clube poderia oferecer. Por conta disso, começou a se desgastar com os dirigentes, embora o trabalho dentro de campo até que estivesse satisfatório.

Pois agora Ricardo Pozzi, o Ricardinho, maior expressão técnica revelada na história do Paraná Clube, campeão mundial pela seleção brasileira, decidiu reassumir o cargo em meio a uma situação de instabilidade que parece não ter fim – e que apresenta consequências claras no rendimento da equipe em campo.

Da outra vez as coisas até que estavam razoavelmente bem, apenas com alguns pequenos entraves financeiros a prejudicar a harmonia interna do trabalho. Mas agora a crise está escancarada, com promessas de solução que nem sempre a diretoria tem como honrar. E com desdobramentos a impedir uma continuidade de trabalho, pela falta de recursos para manter todos os profissionais.

Não que façam corpo mole por dois ou três meses de atraso salarial. Isso não existe e na hora que a bola rola todo mundo só quer é ganhar. Mas o rendimento jamais será o mesmo, pois durante a semana a cabeça conturbada pelas dívidas acumuladas e o atraso nas contas a pagar mexem com o equilíbrio psicológico, impedindo o melhor desempenho nos treinamentos.

E tem o outro fator, que é até a razão do retorno de Ricardinho: a perda de profissionais. Sabe-se que há um pacto de união em torno da melhor causa possível e isso é louvável. Mas como desprezar um convite de outro clube, sabendo que terá salário melhor e pagamento em dia? Foi assim com o técnico Claudinei Oliveira e também com o zagueiro Gustavo, que trocaram o Paraná Clube pelo Atlético. E não há como impedir que outros hajam da mesma maneira.

Mas Ricardinho é valente e decidiu enfrentar a corrente. Tem carisma, é querido e admirado pelos torcedores e só precisa agir com bom senso, para fortalecer a união do grupo e lapidar o esquema tático proposto por seu antecessor, que prioriza a posse de bola com qualidade. Foi assim que o time reencontrou o bom caminho e é por aí que o novo treinador deve também caminhar – torcendo, também, para que a falta de dinheiro na conta de cada um não possa minar seu trabalho.

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