A falta de imaginação na contratação do técnico Carlos "Dunga" Verri para voltar a dirigir a seleção brasileira dá a exata dimensão do desacerto geral que rege o futebol nacional. Exceto para alguns poucos, além da diretoria da CBF, é claro, Dunga é o que representa de atraso para exercer um cargo tão importante. Enquanto pelo mundo a fora profissionais buscam se reciclar, aproveitando estágios em grandes clubes e workshops especializados, nosso treinador passou o tempo em casa, assistindo a jogos na tevê e trocando ideias de futebol com alguns amigos mais próximos.
Mas ele não é culpado de nada, pois, mesmo assim, foi convidado para voltar ao comando da seleção. Responsáveis são aqueles que comandam há décadas o futebol desse país, sem apresentar qualquer boa vontade em prol da modernidade e, principalmente, da seriedade administrativa.
Veja o caso de ontem, por exemplo, do Flamengo. Com uma dívida monstruosa com o governo federal e outra com as pendências de ex-profissionais (para se ter uma ideia, 1/3 dos gastos de folha cabe a salários de jogadores que não estão mais no clube e ainda continuam recebendo por contratos em vigor), anunciou a troca de treinador, demitindo Ney Franco e contratando Vanderlei Luxemburgo, o mais caro do mercado brasileiro.
Se as despesas já vêm sendo maiores que as receitas há algum tempo, agora a situação vai piorar ainda mais. E o que acontece? Nada. Em países da Europa, os clubes inadimplentes são impedidos de se inscrever nas competições oficiais. Foi assim dias atrás com o time da Marta, na Suécia, como havia sido com a Fiorentina, tempos atrás, que teve de mudar de nome e recomeçar na terceira divisão italiana por conta com rombo financeiro.
Enquanto isso, por aqui, o governo federal ameaça apertar, mas afrouxa cada vez mais as cobranças, a ponto de a "Bancada da Bola" (os deputados federais ligados ao futebol) já estar ensaiando um novo movimento para perdoar as dívidas públicas dos clubes de futebol. E como ficam os empresários da lida civil, grandes ou pequenos, que têm de financiar e pagar religiosamente por seus atrasos e descasos financeiros?
Esse é apenas um ponto, pois o assunto também se estenderia por outros senões, a começar pela preparação dos jogadores nas bases e sua prematura exportação a mercados internacionais incertos, como se apenas o montante financeiro interessasse e o retorno imediato fosse mais importante que um investimento técnico de médio prazo, com melhores resultados tanto para os atletas quanto para os clubes.
Como não há vontade de mudar e cada qual cuida de seus próprios interesses, permanecemos nessa estagnação, enquanto vemos outros países, antigos fregueses, atingirem outros estágios a ponto de nos atropelarem em confrontos diretos.
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