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Agora não importam as causas, o que pesa são as dezenas de vidas desperdiçadas. Já nem tem como se cobrar de quem, irresponsavelmente, pode ter apostado em uma viagem de longa distância em um aparelho que não tinha tal autonomia de voo. E nem de quem negociou essa viagem, por alguns cifrões a menos, quando o recomendável seria o fretamento de um avião de companhia brasileira ou colombiana para o trajeto direto a partir de São Paulo.

Isso tudo não importa mais. Não vai apagar nossa tristeza, não vai confortar a perda de familiares e amigos. Não vai restituir o brilho de impecável campanha de um clube, que ainda médio, veio lá de baixo para firmar posição entre as principais equipes do continente, finalista de uma competição sul-americana.

Foram tão lindas e tocantes as homenagens, que a emoção advinda delas gerou uma paz de espírito após as lágrimas. Como, por exemplo, entre tantas, a da banda Guns’n’Roses em seu site, substituindo o símbolo do grupo pelo da Chapecoense aos versos de “knock, knock, knock on the heavens door” – na tradução de batendo na porta do céu. Ou da diretoria do Atlético Nacional, que ontem lotou seu estádio, local da cancelada decisão, para iluminar o caminho do céu com milhares de velas brancas carregadas por seus torcedores.

Gesto bonito e solidário também dos clubes brasileiros, na proposta coletiva de ceder, sem qualquer custo, jogadores para a remontagem do time pelo clube catarinense, para, após superado o grande trauma, a rotina ser retomada para a temporada de 2017 que se aproxima.

Só que a sugestão veio com um adendo que pode ser discutível. Em nome da solidariedade, recomendaram imunidade à Chapecoense pelos próximos três anos, impedindo possível rebaixamento caso se encontrasse em situação para tal.

E aí há alguns pontos a serem discutidos. O primeiro que dificilmente o próprio clube aceitaria tal condição. Se a ajuda dos demais, cedendo jogadores, será bem-vinda, essas benesses extras são absolutamente desnecessárias, pois, a partir da própria retomada das atividades após esse belo apoio logístico, a Chape já começaria a respirar por conta própria e teria o campeonato estadual para ajustar seus pontos. E aí, qualquer deficiência apurada, poderia novamente pedir socorro aos solidários coirmãos.

O momento é de dor profunda. Para nós todos, que, de uma maneira ou outra, tínhamos ligações com aqueles que se foram. De amizade, de parentesco, de admiração. Mas esse momento, de tão profunda carga emocional, não se presta a decisões que envolvem o futuro, pois não contaria com o fator racional. E dali uns tempos, baixada a poeira, cicatrizadas algumas feridas, já poderiam estar sendo contestadas – ou até revogadas, o que seria bem pior.

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