Desde sempre o futebol foi assim: passional. O brasileiro, pelo menos. As bases estabelecidas pela razão invariavelmente encontram desvios na frente, consequência da paixão de dirigentes/torcedores na busca de resultados imediatos de um planejamento a longo ou médio prazos.
O Paraná Clube teve um exemplo recente. O mesmo diretor que pesquisou no mercado jogadores de custo médio, que se enquadrassem no orçamento proposto pela diretoria do clube, dia desses cobrou melhor rendimento e melhores resultados, como se tivesse contratado estrelas de primeira grandeza.
O retorno em campo é diretamente proporcional à capacidade técnica dos atletas escalados e é certo que os tricolores balancem na classificação até o fim da temporada. Já não há mais aquela instabilidade de temporadas passadas e com alguns ajustes pontuais será até possível pensar na possibilidade de disputar vaga de acesso. Isso desde que não permita se desgarrar dos atuais primeiros colocados.
O técnico Claudinei Oliveira é quem melhor reflete a sensatez que deveria também atingir dirigentes e torcedores paranistas. “Não vendo sonhos”, declarou após o empate de anteontem contra o Atlético-GO – que está jogando muito bem e não de graça é o vice-líder, único time próximo ao líder Vasco.
A proposta de trabalho no início do ano era a de esquentar no Campeonato Estadual para tentar chegar entre os primeiros no Nacional. E vem sendo cumprida, pois, se atualmente ocupa a 11.ª posição, está apenas a três pontos do quarto colocado. Ou seja: situação sob controle, com o bom treinador extraindo o máximo possível do potencial técnico de seus comandados disponíveis.
Gilson Kleina tentou fazer o mesmo no Coritiba, mas não resistiu à pressão da paixão de quem imagina possuir um time bem melhor do que a realidade apresenta. Sabe-se das limitações do grupo de jogadores, com poucas opções de banco para uma equipe titular que, quando escalada em seu todo, apresenta qualidades. Mas foi para a decisão do Estadual sem cinco peças e não resistiu. Tanto quanto em algumas partidas do Campeonato Brasileiro, contra oponentes reconhecidamente mais fortes.
Só que o torcedor (e isso hoje vale para qualquer clube) não pensa assim e sempre imagina ter um supertime em campo. E o que é pior: não economiza vaias aos seus próprios jogadores já a partir do primeiro erro, contribuindo para desestabilizar ainda mais uma equipe frágil e de poucos recursos.
Importante saberem, dirigentes e torcedores, que sempre há uma grande distância entre o time que sonham ter e o que realmente se apresenta no gramado. Como enorme é a distância entre a razão e a paixão, aí seja em que área ou atividade for.